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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

'Aquarela é como mulher'

'Aquarela é como mulher'. Esta foi uma das frases do mestre Cárcamo para abrir o workshop de sábado passado em São Paulo. Em seguida, explicou sua perspectiva:
'Mulher precisa de atenção, de cuidado, de constante observação porque, do contrário, ela te deixa. O mesmo acontece com aquarela'.
Gostei da metáfora. Em minhas anotações acrescentei: Mulher e aquarela têm ligação direta com o tempo, com o ambiente, com sentimento e a delicadeza. Elas possuem brilho e luminosidade sedutora em seu aglutinante. Elas exigem equilíbrio entre algo comum, como a água, e o incomum químico como as multiplicidade de misturas. No fundo você nunca domina, nem uma nem a outra mas, se você for sábio vai se relacionar, aprender e crescer junto com elas. Além disso, tanto a mulher quanto a aquarela, sempre te surpreendem.

Por essas e outras, tive a honra de participar de um workshop com o grande mestre, Gonzalo Cárcamo.
Artista dedicado à aquarela com uma obra lindíssima e uma pessoa doce nesse 'mundo de marrentos'. Compartilhou um pouco de sua grande experiência e, de quebra pude conhecer um bocado de gente desse universo artístico. Já havia participado do curso com o grande Celso Mathias e de uma 'demonstração' feita pelo Renato Alarcão em seu Diário Gráfico. Achei interessante observar as diferenças de manuseio do material e a técnica de ensino de artistas gigantes como Celso Mathias e Cárcamo. Duas pessoas incríveis que carregam diferenças na expressão e preferências cromática muito particulares mas que afinam em algumas frases e posturas. Resolvi registrar conceitos apreendidos nessas experiências, para eu não esquecer:
1. A técnica, a arte exige dedicação e envolvimento
2. Não use cores puras. A natureza é feita da 'mistura'.
3. Ouse! Experimente! Se dê o direito e respeite o erro!
4. O segredo da aquarela é o suporte. Nada de papel vagabundo!
5. Aguce o olhar. Quem disse que o céu é só azul? Olhe novamente.
6. Foque no seu trabalho, em sua evolução. Nunca se compare a outros, você é único.
7. Qual o preço para 30 anos de dedicação que resultam em 30 minutos de pintura?
8. Olhe para o resultado do seu trabalho como um degrau, nunca como um pódio.
9. Cuide de seu material com ciúme e zelo.
10. Só se esconde o que se tem medo de perder! Dom é dádiva, presente. exercite!










sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Não farás imagem. Será?

Não terás outros deuses diante de mim.
Não farás para ti imagem de escultura, 
nem alguma semelhança do que há em cima nos céus,
 
nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
Não te encurvarás a elas nem as servirás; 
porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso.

Com certeza você já ouviu falar do mandamento 'não farás para ti imagem', não é? Será que é isso mesmo ou esse é um 'recorte' do texto? Se é um 'recorte' por que o interesse de retirá-lo do restante do texto que, na realidade é concluído no versículo seguinte? (em negrito) Creio que a questão não é o fazer ou não fazer imagens. A essência do texto, a intenção do autor é não tentar produzir imagens que substituam o que não pode ser substituído, que não haja esforço para dar contorno ao que não tem forma. Deus é Espírito.
É crendo no principio de que a Bíblia explica a própria Bíblia, é fácil entender esse argumento quando leio, no próprio texto de Êxodo, que Deus orientou Moisés a fazer imagem. Veja só:
Farás também dois querubins de ouro; 
de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório.

E, no mesmo ambiente, ainda no deserto, temos o registro do Senhor orientando Moisés para a elaborar de uma escultura que reproduzisse uma serpente: 
E Moisés fez uma serpente de metal, e pô-la sobre uma haste; 
e sucedia que, picando alguma serpente a alguém, 
quando esse olhava para a serpente de metal, vivia.

Para reforçar ainda mais o raciocínio, foi o próprio Deus quem chamou e habilitou artistas para executarem a tarefa da construção e do desenvolvimento artístico de todo Tabernáculo - que metaforizava a presença dEle no meio do povo.
Disse então o Senhor a Moisés:
"Eu escolhi a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá,
e o enchi do Espírito de Deus, dando-lhes destreza,
habilidade e plena capacidade artística
para desenhar e executar trabalhos em ouro, prata e bronze,
para talhar e esculpir pedras, para entalhar madeira e
executar todo tipo de obra artesanal.
Êxodo 31.1-5
Desculpe mas não tem essa de 'não fazer imagem'. Deus, O Grande Artista, que mostra quem é pelo que fez e faz (Sl 19) não iria 'deletar' essa característica tão marcante do único ser que foi criado à sua imagem. Sendo assim, por que esse 'massacre' que recebi na igreja e que está tão enraizado em nossa cultura judaico-cristã? Tento responder pensando na História e nas 'ferramentas' de dominação humana. Para criar criar, para ser artista é necessário pensar. Nada mais fácil para 'os poderosos' que 'ensinar' e reproduzir muitas e muitas vezes uma 'meia verdade' de que não fazer arte é imposição da Lei divina. Em minha leitura bíblica não vejo razão nenhuma para esta interpretação. Muito ao contrário disso, Deus tem prazer em estimular à reflexão:
"Por que vocês se preocupam com roupas?
Vejam como crescem os lírios do campo.
Eles não trabalham nem tecem.
Ou como o próprio Cristo nos valoriza como seres pensantes;
"O que está escrito na Lei? ", respondeu Jesus. "Como você a lê? "

Quanto a mim, vou continuar louvando a Deus com o que tenho e sou. Só para deixar claro o que penso: Louvar é elogiar. Elogiar com a vida é imitar, é ter como referência. Adorar é expressar abertamente. Faço isso com um pouquinho de desenho, com minha arte, com a vida.

Coração do Artista 5

O coração do artista (parte 5 - fim)


Arte Bizantina – abstração e sonelidade


Arte Gótica – Grandiosidade divina- fragilidade humana
Catedral Sainte-Chapelle é uma capela gótica que fica em Paris


Arte Renascentista – o homem é a referência é a medida de tudo.
Deus fica em segundo plano. As referências cientifico-anatômicas são definidas. A busca e o retorno aos gregos e aos romanos na literatura, na arquitetura, nas artes plásticas.
Michelangelo – a criação

O Barroco – Reforma Protestante. 
O tema das pinturas deixa de ser os santos, deixa de ser Deus (Deus não pode ser retratado). Os pintores 'migram' para o retrato. O ser humano é a imagem de Deus e precisa ser dignificado como tal.
Rembrandt van Rijn (1606/1669) pintor holandês
Valorização da ciência e do retrato


Johannes Vermeer foi mais um dos grandes pintores da Escola holandesa (1632/1675) – O protestantismo vai valorizar o trabalho e apresentar o ser humano como agente divino no mundo. Trabalho, lucro, cientificidade no encontro com a leitura, no fazer e no dever.



Do outro lado a resistência às ideias da Reforma. Barroco da Contra-Reforma
O drama, a emoção, a teatralidade valorizando o sagrado, a Igreja.
As imagens são fáceis de 'ler', de sentir, de ver.


Caravaggio (1571/1610) pintor italiano atuante em Roma – Arte teatral e didática


Depois de um salto pelo Maneirismo o paradigma da arte é quebrado com a 
Arte Impressionista – Iluminismo e grandes descobertas. Pintar retrato quando surge uma tecnologia 'muito fiel' ao modelo - a fotografia. O que sobra para a pintura? A cor a impressão o registro do mundo fora do ateliê.


Monet (1840 /1926) pintor francês, dentre tantos, um grande marco do Impressionismo.
O quatro acima dá nome ao 'movimento' Impressão, nascer do sol'(1873), dá 'apelido' à Arte Impressionista.

Arte Expressionista – Existencialismo e a crise do homem. Deixando de se 'ancorar' em Deus, relativizado pela ciência o que é o ser humano?



Vincent Van Gogh (1853 /1890) mais um holandês.


Arte Surrealista – é preciso registrar os sonhos. A resposta está nos sonhos? Influencia de Freud e Charles Darwin.

Salvador Dalí (1904/1989) pintor espanhol

René Magritte (1898/1967) foi um dos principais artistas surrealistas belgas.


Arte cubista – tudo é rápido, dinâmico, poderoso. Sofre a forte influencia do cinema e os horrores da guerra. O ser humano é uma decepção.



Pablo Picasso (1881/1973), foi mais um dos grandes pintores vindos da Espanha.


Arte expressionista – o importante é gritar – uma reação ao positivismo


Edvard Munch (1863/1944), pintor norueguês


Arte dadaísta – a ‘morte’ da arte
Dada em francês signifique "cavalo de madeira", sua utilização marca o non-sense ou falta de sentido que pode ter a linguagem (como na fala de um bebê)

Marcel Duchamp (1887/1968) foi um pintor, escultor e poeta francês


Coração de Artista 4

O coração do artista (parte 4)
Palestra para Semana de artes Hans Rookmaaker da Primeira Igreja Batista Jardim Novo Realengo, RJ

Creio que este foi a perspectiva das artes até a chamada idade moderna. Tudo circulava em volta de Deus. Você já ouviu falar que o pensamento do mundo até o final da Idade Média era Teocentrico. Deus, o criador, estava no centro de tudo. Na período moderno, na época do Renascimento cultural o mundo passou a ser regido pelo antropocentrismo. Não é palavrão não irmão. Antro (homem) de onde vem a palavra antropologia. O homem passa a levar em conta em primeiro lugar a razão. Pensamento livre de dogmas de explicação divina. O Renascimento é o mesmo período da Reforma Protestante. As circunstâncias ajudaram isso ocorrer. A Peste Negra, no século XIV, foi um dos maiores desastre biológico da história da humanidade dizimou. E a pergunta que foi feita naquela época em que se experimentava uma vida mítica, ou seja, uma vida mergulhadas em lendas, fantasias e discursos do tipo ‘reza que melhora’ e, logo em seguida o questionamento eu rezei e agora? Onde está o Deus que me ensinaram? Ou Deus não estava nem um pouco preocupado com o mundo ou o que foi ensinado não estava bem correto. Como pode ser isso? Deus nunca desvalorizou o pensamento humano. A questão é que pouquíssimas pessoas liam. Liam qualquer coisa, inclusive a Revelação Divina. Esta ‘peste’ era o apocalipse. Mais de 50% da população europeia morreu. A ciência estava envolvida na neblina da superstição e ignorância.
Releia o Gênesis ‘Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente.’
Gn 2:7 e também ‘Então disse Deus: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão". Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou (Gn 1:26,27).
Observe, por favor, qual a palavra mais utilizada neste texto. Todos os livros da Lei, todos os livros históricos, todos os poéticos, enfim toda Bíblia valoriza o ser humano como criatura feita à imagem de Deus. Capaz de fazer escolhas, capaz de criar. Não esqueça, ou melhor releia o texto do versículo 27 do primeiro capítulo da Bíblia. ‘Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.’ O verbo em destaque é ‘criar’. Deus é criador e criou um ser semelhante a ele, ou seja, capaz de criar. O ser humano tem capacidade de criar. Todo ser humano deveria desenvolver isso. Mas você sabe que colocar o homem no centro de tudo é hipervalorizar o conhecimento humano. O bom senso o guardará, e o discernimento o protegerá.Pv 2:11
Nossa grande questão hoje é que estamos desconectados com Deus. A sociedade em que vivemos ‘usa Deus’ como um rótulo. Cola o rótulo em determinado lugar e diz ‘Deus está ali’. Normalmente gostamos de prender o rótulo num espelho e dizemos que estamos cultuando a Deus quando muitas vezes estamos nos idolatrando. Observe as músicas que cantamos. Onde está a soberania divina. Deus tem o compromisso de me atender? Não lemos mais a Bíblia. Estamos vivendo um novo período das trevas. Gostamos dos debates, das grandes programações, dos agitos ‘gospel’. O artista, o profeta é quem pode nos ajudar à refexão, ao pensamento à humanidade.
Artista é o retrato do seu tempo.
Vou deixar uma dica. DICA
D- de DOM – Deus te deu um talento, um presente, uma habilidade, uma semente potencia, um dom.
I – de Inteligência. Bote sua cabeça para pensar. Analise a situação em que você está, busque uma alternativa para dar solução, encontre uma forma para expressar claramente o que está sendo processado em você.
C – de Caráter. Artista de verdade sempre diz a verdade. Para ser artista é fundamental ser. O ser humano é único então seu trabalho vai denunciar quem você é. Não existe esse negócio de arte cristã. Existe arte. Existe arte feita por cristão. Adelia Prado num debate foi ‘rotulada’ de poeta cristã. Ela corrigiu na mesma hora. Sou poeta porque me expresso. Expresso o que sinto e o que tem dentro de mim. Minha fé está aqui dentro então ela aparece em minhas poesias.
A – de aplicação. Não existe arte sem transpiração. Transpiração dentro e fora. É fundamental estudar, estudar, estudar. Estudar as técnicas, estudar a história, estudar os artistas, estudar filosofia. Como você quer ser artista sem ‘sofrer’ a angustia da nota que não sai, do papel em branco, do bloco de mármore ainda sem forma, dos músculos cansados teimando não completar o movimento. Exemplo Nelson Freire, pianista brasileiro mineiro. Estuda mais de quatro horas por dia. Ele tem setenta anos e desde os cinco anos de idade estuda.  E o que dizer de João Carlos Martins?


Coração do Artista 3

O coração do artista (parte 3)
Palestra para Semana de artes Hans Rookmaaker da Primeira Igreja Batista Jardim Novo Realengo, RJ

Defendo a ideia de que o artista, o poeta se parece com o profeta. Poeta é aquele que processa o mundo e o transforma em produção artística e esta produção estimula a reflexão, o pensamento. Poeta da música, da pintura, da literatura... e o profeta é quem olha para o seu tempo e denuncia o que vai acontecer se continuarem aquele caminho. O ponto em comum é que ambos enxergam seu tempo e apontam para uma mudança, uma ‘metanoia’. Meta (além de)+ nous (pensamento, intelecto) no seu sentido original, significa mudar o próprio pensamento, mudar de ideia. Seria a mudança do que um indivíduo está vivenciando para um novo modo de viver.
Platão disse que, quando o poeta está realmente sendo poeta, ele está ‘inspirado’, ‘possuído’. Com isso, ele pretendia dizer que o poeta recebeu um ‘sopro divino’, pois a palavra em do Latim IN (em)+SPIRARE (respirar). Já o músico J. S. Bach, por sua vez, dizia que o principal para fazer uma obra de arte era o trabalho, mais di que a inspiração. Esse entendia de fazer arte.
Voltando ao paralelo entre profeta e poeta, pensemos no profeta Jonas, por exemplo. Ele foi chamado para pregar Nínive era a capital do país inimigo, dos odiados oponentes, dos ameaçadores. Deus manda Jonas ir pra lá para profetizar e pregar o arrependimento. O profeta não quer mas vai. Como sabemos disso? Sabemos pelas atitudes de Jonas. O que ele faz denuncia o que ele sente. Ele prega com muita má vontade e, por incrível que pareça, todos, inclusive o rei, se arrependem. O que o profeta diz? Ele afirma: eu já sabia! Deus seu caráter perdoador ‘quebraria o galho’ desse povo mau. O profeta fica triste se recolhe e tem a experiência da aboboreira. Naquela experiência, mais uma vez, Deus mostra ao profeta como ele age. Entendeu Jonas? A mesma coisa acontece com os demais profetas. Ele olha a atitude do seu povo e usa a orientação divina para mostrar o que está dando errado e vai ter consequências. O artista faz o mesmo. O artista é, assim como o profeta, qualquer um do meio do povo que se dispõe. Que é sensível à realidade de seu tempo, de sua vida e não aguenta de desejo de expressar isso de alguma forma.
Permitam-me, por favor, entrar aqui com a teoria de  Howard Gardner, desenvolvida na década de 80 por uma equipe de investigadores da Universidade de Harvard. Segundo esse pesquisador existem nove tipos diferentes de inteligências. A inteligência Lógico-matemática, a Línguística, a Musical, a Espacial, a Corporal-cinestésica, a Intrapessoal, a Interpessoal, a Naturalista e a Existencial. E dai? Você deve estar me perguntando, não é? Daí que é muito bom uma teoria afirmar o que o senso comum já dizia com ‘cada um dá o que tem’, ou ‘ninguém é bom em tudo’. É o famoso ‘ninguém é burro de tudo’. Se não é burro de tudo também não é inteligente de todo. Por isso temos gente muito boa da linguagem matemática. Deve ter alguém bom nisso aqui, não é? Tem gente que gosta de números!! Tem gente que parece que nasceu ‘sacolejando’, não é mesmo? Outros falam com uma facilidade se expressam de maneira tão clara. Dizemos que isso é inato, que é talento. Artista é gente que tem talento.

Talento me faz recordar uma história contada por Jesus. Trabalho de casa: ler o texto de Mateus 25. O evangelista dos judeus registra que o Senhor compara o Reino a um senhor que distribui talentos. Todos ganham talentos para administrar. Na história os talentos são do Senhor. Talento é o nome de uma antiga moeda grega que representava 6000 denários/drácmas. Isso dá quase 17 anos de uma diária de um trabalhador. Você conhece a história. O que recebeu cinco entregou mais cinco. O que recebeu dois mais dois e o que recebeu um devolveu. Creio que damos muito destaque ao ‘grangear’ das versões antigas ou do ‘pão duro’ que enterrou o talento. Mas tem a dimensão do comportamento do dono da riqueza. Aos dois primeiros da história, você lembra o que ele disse? Entra o gozo do teu senhor. Sejam meus sócios, meus parceiros. O outro não faz por medo e não faz porque tem uma visão errada o senhor. Ele acha que o ‘senhor colhe onde não semeia e ajunta onde não espalha’. Este, segundo o autor, coloca o senhor como explorador injusto. Visão equivocada a quem foi confiado 17 anos de trabalho de um diarista. Talento é dádiva, ou melhor empréstimo. Empréstimo? É isso mesmo. O poeta, o artista bíblico afirmou que ‘Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem;’ Sl 24:1

Coração do Artista - palestra Semana Rookmaaker 2

O coração do artista (parte 2)
Palestra para Semana de artes Hans Rookmaaker da Primeira Igreja Batista Jardim Novo Realengo, RJ

O coração então é, metaforicamente, a sede dos sentimentos. Sentimos a partir dos sentidos – a visão, o olfato, o tato, o paladar e a audição. Estes sensores nos ajudam a captar informações da natureza, dos objetos, das pessoas, enfim de tudo que nos cerca. O coração é então, de forma figurada novamente, uma bomba que espalha essas sensações. A conexão coração e mente faz nosso interior sacolejar, triturar informações e reagir em relação aos sentidos. Gosto de pensar que dentro de cada um de nós está um processador, para ser mais simples um liquidificador. Recebemos informações e processamos. Fazemos um caldo do eu. Daí é que surgem ideias interessantes como ‘você é aquilo que come’. As Escrituras mostram o perigo de ser conduzido apenas pelos sentimentos. Ser conduzido somente pelos sentimentos é instinto e o ser humano é mais do que um animal. Somos animais pensantes. O Senhor diz por meio do profeta Jeremias: "Eu sou o Senhor que sonda o coração e examina a mente, para recompensar a cada um de acordo com a sua conduta, de acordo com as suas obras. "
(Jr 17:10). O próprio apóstolo Paulo mostrou que esta crise é natural do ser humano. Você lembra? Miserável homem eu que sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte? 
Rm 7:24. Outro exemplo é o da orientação do Senhor a Caim. Veja lá no livro dos princípios: O Senhor disse a Caim: "Por que você está furioso? Por que se transtornou o seu rosto?
Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo".
(Gn 4:6,7). Há uma muito antiga e bem conhecida que diz que no interior de cada indivíduo há dois cães: um afável e generoso, e outro hostil e violento. Ambos vivem em constante disputa, vencendo por fim aquele que cada um de nós alimentar com nossos pensamentos e atitudes. É da união, da combinação, da convivência de seres humanos, de pessoas que surge a cultura.
Sendo assim, quando pensamos em Coração do artista queremos dizer que existe diferença entre o coração, os sentimentos do artista e das outras pessoas?

Fique com a pergunta e continue comigo. Quem é o artista? Artista, segundo o dicionário é a pessoa que exerce uma das belas-artes, pessoa que exerce um ofício com gosto, quem faz uso de uma das seis linguagens artísticas. Linguagens artísticas: música, dança, pintura, escultura, literatura o teatro. O cinema reivindica ser a sétima arte, a oitava a fotografia e a nona são os quadrinhos. Sob o ponto de vista que artista é todo aquele que exerce seu ofício com gosto, grosso modo, quase todo mundo é artista.


Coração do Artista - palestra Semana Rookmaaker 1

O coração do artista (parte 1)
Palestra para Semana de artes Hans Rookmaaker da Primeira Igreja Batista Jardim Novo Realengo, RJ

Vamos pensar juntos nesse tema muito sugestivo e catalisador de ideias. Coração de artista. Vamos definir os termos. Um por vez.
Coração pode ser, sob o ponto de vista anatômico o órgão do corpo humano que bombeia o sangue, que pulsa vida. De maneira figurada ele pode estar ligado ao caráter, como costumamos falar: ‘fulano tem um coração inflexível nesses assuntos’ ou, sendo bem bíblico, como registra mais de uma vez o profeta Ezequiel: ‘'Darei a eles um coração não dividido e porei um novo espírito dentro deles; retirarei deles o coração de pedra e lhes darei um coração de carne. (Ez 11.19 e em 36.26). 
É claro que você sabe que a caráter é tudo que define, que qualifica distintivamente, é a marca é a dignidade. É o que você faz quando ninguém está vendo, é o que está aí dentro de você e diz que você é você.
Coração também pode estar ligado à memória. Dizemos ‘guardou mágoa no coração’. Nas Escrituras também está ligado, algumas vezes, à memória. O poeta diz “Escondi a tua Palavra no meu coração para eu não pecar contra ti’(Sl 119.11) e até a Lei registra: Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as a teus filhos” (Dt 6:6).
A característica mais ligada ao coração é a afeição ou sentimento. Criamos gestos, movimentos que denunciam o formato e a atividade cardíaca. É como diz o poeta bíblico: ‘A alegria do coração transparece no rosto, mas o coração angustiado oprime o espírito.(Pv 15:13)
Finalmente temos o coração como um indicativo geográfico, a parte central de algum espaço definido. UM exemplo claro disso é quando dizemos, minha igreja fica no coração do bairro. Biblicamente falando podemos citar uma das recomendações do sábio: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida’. (Pv 4.23).
Coração como um todo pode estar denunciando o caráter, índole ou conjunto das faculdades emocionais.
Muito interessante, curioso mesmo é nos identificarmos com essas atribuições que apresentei sobre o coração. Mas, imagino que você saiba que cientificamente o coração não é nada disso. Ele é um órgão, um músculo cheio de ligações nervosas que faz parte do sistema de circulação sanguínea. Interessante não é? Comecei falando que estas características são fruto de nossa capacidade de abstração. Figurativa, metafórica, poética e todos entendemos porque nos identificamos com essa ideia. Não é falta de ciência é outro tipo de ciência. Basta olhar nos dicionários e todos eles vão apresentar diversas perspectivas da palavra coração. Webster, por exemplo, diz que ele é a sede das emoções, da personalidade, do lado moral da natureza do homem. Até mesmo um filósofo do começo da Idade Moderna, chamado Blaise Pascal, afirmou o que virou dito popular: O coração tem razões que a própria razão desconfia. Por que estou dizendo isso? Porque entendo que é importante identificar que esta crise antiga entre fé e razão, entre intuição e lógica sempre esteve e está presente no ser humano. As Escrituras já denunciavam isso. Tenho certeza que você já ouviu parte desse versículo: ‘Ele fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender inteiramente o que Deus fez.’(Ec 3:11).