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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

'Papel nosso de cada dia'

Não consigo me imaginar sem o desenho.
Desde muito cedo ficava quietinho num canto se me deixassem com uma folha e lápis.
Houve um tempo em que meu pai ficou 'muito preocupado' com essa relação com o papel.
Estou 'coroa' e continuo nessa toada.
É quase um ritual.
A folha em branco é uma angustia deliciosa. Um universo a ser desvendado. Um espelho, uma marreta,uma montanha, um punhal.
Quem tem uma criança com esse desejo de desenhar sabe a loucura que é atender esse 'vício'.
Só sabe disso quem já ouviu: "Ainda tem espaço nessa folha!"
O desenho é uma forma de falar, de gritar, de escrever, de contar uma história, por isso, uma expressão.
Sendo, como você sabe, de uma família sem recursos essa era uma preocupação extra em minha casa.
Pré-adolescente descobri que o 'pão  nosso de cada dia' vinha enrolado numa folha cinza, boa pra desenhar. Fui 'catando' essas folhas para desenhar. Meu pai, adulto astuto, logo que percebeu meu desejo de 'guardar' as folhas era um argumento muito interessante para aproveitar e dar sentido à tarefa de comprar pão todas as manhãs. Passei a acordar mais cedo e comprar o pão para guardar o papel. Não demorou muito, para o vendedor da padaria ficar sabendo. Logo ele começou a embrulhar o pão com uma folha extra de papel.
Mais tarde, um amigo da família que trabalhava numa copiadora, começou a trazer folhas impressas para eu desenhar no verso.
Creio que foi a partir disso que comecei a 'experimentar' materiais. Material é ferramenta. Algumas ferramentas, você sabe, são muito facilitadoras
Aguada de café, aquarela escolar e caneta esferográfica colorida sobre cartolina


Aguada de café com cola branca, aquarela escolar e caneta esferográfica colorida sobre papel Fabriano importado.


Aquarela e tina de parede sobre papel de embrulho kraft.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

e não falei de desenho

Que extraordinário tesouro está à nossa disposição na internet!
Meu Deus, que vontade de voltar no tempo!!
Quanto para aprender, quanto a descobrir!!
Se você lê esse texto, só o faz porque tem acesso ao mundo virtual da 'grande rede'.
Por que tenho acesso, escrevo. Escrevo sem saber quem vai ler e, se vão ler. Isso agora pouco importa, escrevo. Houve um tempo em que só se fazia isso em caderninhos, só compartilhávamos com amigos muito próximos e amigos próximos, algumas vezes é mais do mesmo. Experimentei esta 'mídia' uma vez e logo deixei de lado.
Agora, estou extasiado! Maravilhado com a possibilidade de aprender, ver e conhecer tanta gente 'da minha tribo'. Sou, desde sempre apaixonado por artes e, como é bom acompanhar gente com a mesma paixão. Não deixo de dizer que cresci numa favela e, antigamente, que acesso 'um moleque de morro' tinha a este mundo?
Hoje sou um 'coroa da zona oeste' do Rio de Janeiro, que fica sem dormir, angustiado, desejando o exercício, a novidade, a nova técnica. Sentimento não envelhece mesmo. Maravilhado com os artistas que estão espalhados pelo mundo. Gente que ultrapassa o 'tem que' imposto pelo cliente. Gente como 'coragem de ser' e de fazer
Mas, de verdade, maravilhado estava ontem.
Acordei lamentando não ter vinte anos, lembrando das tarefas e prazos à cumprir. Aí, quase que como 'voz divina'  lembrei de um livro do Pondé - Guia politicamente incorreto da Filosofia, editora Leya, 2012.
Catei aqui no estúdio e encontrei a frase sublinhada:
'Sociedades 'justas' podem produzir grande mediocridade intelectual, como a nossa época, dadas, as bobagens das redes sociais... Muito do que o espírito humano produziu ele o fez em meio ao sofrimento. Isso não justifica o sofrimento, apenas indica que um cultura da felicidade e da justiça social pode apenas gerar gente banal e medíocre"
Fiz esta caricatura pintada do Pondé - observe que não falei desenho - não apenas pelo 'politicamente incorreto', mas pelos vídeos que assisti na internet, as aulas de pintura. E, como sempre, tracei pontes, fiz ligação do conteúdo com a vida:
Quanta 'molecada de favela' tem aproveitado as facilidades de aprendizado na grande rede?
O quanto nós educadores estimulamos isso?
Chega! Chega de desperdiçar tempo com baboseira.
Basta de dedicação para desenvolver a mediocridade.
É muita angustia de 'um coroa' maravilhado com o universo que se descortina.
Pare! Pare, digo eu diante do espelho, de ressentimento com tempo que desceu pelo ralo. Deixe! Deixe de transferir toda culpa para a história, para o sistema, isso é baboseira.
Melhor é...
Melhor é o que tarda em irar-se do que o poderoso,
e o que controla o seu ânimo do que aquele que toma uma cidade. (Pv 16.32)




segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Nostalgia - Milton Santos

Hoje, ouvindo a gravação da entrevista do grande intelectual Milton Santos, bateu uma nostalgia... Terminei minha primeira graduação no final de1988. Êta momento conturbado!
Por volta de 1985 passei, quase como um milagre, no Vestibular da extinta Cesgranrio. Por incrível que pareça foi muito maior a decepção do que a felicidade nessa experiência. A felicidade ocorreu porque pouquíssimas pessoas, especialmente oriundas de classes menos favorecidas, conseguiam este feito. Mesmo sendo uma vaga para Artes era uma aprovação no Vestibular e eu estava bem distante de ser um aluno brilhante. O 'Ego' estufou e nem deu tempo de 'tirar onda'. Passei na reclassificação e quando fui fazer a inscrição (etâ lugar com acesso difícil!), o curso oferecia uma grade com algumas aulas pela manhã e outras na parte da tarde. Como deixar o trabalho? Como manter vivo o sonho de estudar artes? Você nem imagina o que era isso. Um 'molecote' que amava desenho, trabalhava numa editora-gráfica, que já ilustrava quatro periódicos e desejava dominar as técnicas, 'aprender' a desenhar e trabalhar na Disney? Ali percebi que existia um abismo entre a realidade das escolas públicas e que 'faculdade pública era coisa de rico'.
Depois de muita crise fui para o Bennett. Era o único curso ligado às Artes que oferecia turno à noite. Licenciatura em Artes. Poucas matérias de técnicas e muitas, muitas mesmo, ligadas à educação e à cultura. Este, sem dúvida, era o melhor, o mais famoso e por isso, o mais oneroso curso para formação de professor de artes. Quase todo o salário era dedicado às mensalidades.
Foi lá que ouvi falar, pela primeira vez, em História da Arte, de cultura afro e Movimento negro, de Milton Santos, de Mercedes Sosa, de Teologia dos pobres, de política de globalização e engajamento e esperança na educação. Nesta época eu queria mudar o mundo. Se havia algum movimento de classe, um grito, uma manifestação lá estava eu inteiro, de corpo e alma. 
Hoje, tenho que admitir, e dói afirmar que ando descrente, decepcionado com as mudanças políticas que me fizeram ir às ruas, gritar, deitar no chão, dormir na rodoviária...
Nessa nostalgia lembrei que mas faz uns dez anos que ouvi, com total descrença, sobre a privatização da água e a manipulação indiscriminada e vergonhosa dos meio de comunicação. Agora, imagine meu espanto diante de nossa realidade. 
Já deixei, e não é de hoje, esta ilusão de 'mudar o mundo'. Estou mergulhado numa tarefa muito mais radical: aprender a mudar. Mudar o que vejo diante do espelho da alma. O sábio já dizia: Como a cidade com seus muros derrubados, assim é quem não sabe dominar-se. (pv 25.28)
Quando olho para trás vejo gente, como Milton Santos que como profeta, anunciava a solidariedade, a educação e a cidadania.

''A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos
que apenas conseguem identificar os que os separa e não o que os une.
Milton Santos



Creio que devo parar e refletir como o poeta bíblico: 

Por que você está assim tão triste, ó minha alma? 
Por que está assim tão perturbada dentro de mim? 
Ponha (refletia ele consigo mesmo) a sua esperança em Deus!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Miloca

Já escrevi que desenhos são como orações.
Também não é novidade que penso enquanto estou desenhando.
Esta semana rabisquei muito por conta do trabalho.
Em meio a tantos riscos, comecei a fazer uma girafa.
Girafa me lembrou Miloca. Miloca é a forma carinhosa como nossa amiga Daniela Profeta chama sua filha Milena Rita. Daniela é, na realidade, amiga de minha esposa. Mas, obviamente acabou se transformando em minha amiga. Lembrei de uma das deliciosas conversas com Daniela em que ela me falou que Mioloca adora girafas. Minha preocupação com a Miloca internada, nossa amiga sofrendo e a necessidade de estudar pintura com tinta acrílica, se materializou neste desenho-oração.
"Senhor das girafas, do sonho, da fantasia e da cor, ajudar a Miloca por favor!!"

"Se os problemas parecem não ter solução
Quando as mágoas inundam o teu coração
Há alguém que atende a tua oração:
Jesus Cristo, o Mestre e Senhor
Ele é dono da chuva, do sol e do ar
É Senhor da alegria, da dor, do chorar
Ele é dono dos montes, do céu e do mar
É Senhor das crianças, das preces, dos hinos'