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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Painel - sketchbookão - Groove



Minha gratidão ao grupo musical Groove que através do Nathan me convidou para participar do musical Milagres. A emoção e o aprendizado foram imensos. Essa galera do grupo Groove canta muito bem e desenhar com esta 'frente (eu é que era o fundo)musical' foi uma delícia. Quero compartilhar desta experiência sob uma ótica mais artística.
1. Desenhar, pintar sob a observação de  terceiros, ao contrário da maioria dos artistas, não me deixa constrangido. Cada um tem um processo de execução e, para o leigo, algumas vezes, parece mágica.
Costumo 'rabiscar, sujar muito o suporte até definir a composição. Se não tenho constrangimento de desenhar ou pintar em público o mesmo não acontece com relação ao tema, à composição. Não poucas vezes desenho e redesenho. Rabisco, não gosto, faço novamente, e de novo repito o processo até a composição me agradar. Por isso, durante a execução deste painel, tinha uma 'colinha' de como ficaria a composição final.



2. Entendo que desenhar é como interpretar uma música, como decidir fazer um bolo, ou como escrever um texto. Você imagina o enredo, tem a partitura ou a receita à frente e, no meio do processo, pode perder o controle, dar seu 'toque especial'. A mesma coisa ocorre com um desenho feito ao vivo. Me preparei, defini a composição, ouvi várias vezes as músicas e, na hora, enquanto o pastor fazia as reflexões que intercalavam as músicas, comecei a alterar o projeto original. No fundo, foi neste momento que comecei a louvar. Ouvia, me encantava, pedia misericórdia divina e desconectava do restante. Pensei: 'Estou aqui, o desenho é minha expressão de louvor, é fruto de minha gratidão, o milagre é meu, então, por que não deixar a ideia fluir? O projeto original era fazer um painel tipo sketchabook, todo sob os rabiscos, destacando com contornos mais fortes a expressão de cada imagem. Mantive o conceito mas 'amarrei as narrativas' ilustradas com uma pincelada de branco 'brotanto' de uma gaiola (que também não estava no projeto) e algumas manchas de cor.



3. Desenhar ao vivo exige planejamento não apenas do projeto, mas também, é claro, do material a ser utilizado. Este foi, sem dúvida, um grande desafio. Quando eu desenho aqui no escritório, se falta alguma coisa, eu levanto e 'vou catar'. Ao vivo, não dá pra fazer isso. Organização e planejamento não são atributos naturais a mim. Achei que era melhor exagerar do que faltar alguma coisa no momento. Enchi minha mochila de pinceis, canetas (vários tipos e modelos), tubos de tinta (vai que preciso?), potes para colocar água, material para limpeza das mãos e dos materiais. Faço uma bagunça no espaço e isso não consegui mudar (kkk).



4. Desenhar ao vivo impõe condicionamento físico. Além da adrenalina, o movimento da pincelada é maior, bem diferente dos rabiscos feitos no ônibus, no metrô. Este movimento incomum, pelo menos para mim, atinge todo braço. A posição, a firmeza do painel, nesse caso, é muito importante. A ajuda de um profissional marceneiro, como Luciano, foi imprescindível. Sofri um bocado porque o painel estava muito perto do piso. Combinei isso com o Luciano para não esconder parte do painel do Congresso dos Jovens. Esta solução afetou o tamanho e a distância ente o piso e o painel. Assim tive que fazer toda parte inferior de joelhos. Convenhamos, que mesmo estando num templo é complicado ficar mais de quinze minutos de joelhos. Haja oração e câimbras.



5. Fazer um desenho-painel durante cerca de uma hora, à vista de todos, exige firmeza e simpatia depois de concluído o trabalho. É muito diferente de um trabalho desenvolvido no escritório. No escritório eu faço, avalio, me afasto, ajusto, observo. Nesta experiência eu não pude fazer nada disso. É correr e fazer. Um trabalho produzido no escritório, depois de concluído, eu saio, vou lavar a louça, vou molhar as plantas no quintal, vou andar... Preciso desligar para refletir. Neste caso, logo depois da conclusão, é preciso, como disse, firmeza. Firmeza contra os ingênuos e os espertalhões que desejam a obra: 'Me dá!". 'Você já sabe o preço?". "Vai vender?". "Acho que vai ficar legal perto da piscina, quem sabe do meu quarto!". Por isso, firmeza e simpatia. É necessário também preservar a simpatia porque, no fundo estas pessoas estão expressando admiração, carinho e dizendo que, de alguma forma foram afetadas pelo trabalho.



A experiência foi tão boa que decidi fazer outros painéis grandes enquanto ouço música. Quem sabe?

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Dicas de desenho 3


Já faz tempo que declarei minha paixão por esta forma de 'passar o tempo' numa viagem. Ônibus, trem, metrô, vale quase todo tipo de transporte. Algumas vezes só a presença do meu sketch na mochila já é um estímulo à observação. Taí. É este o meu tema: observação.
Já havia dito em outras postagens da importância de desenhar, desenhar sempre. Para mim isto é tão claro. Quem canta, deve cantar. Quem escreve, escrever. Quem ama desenhar, desenhar.Quem canta, escolhe o repertório. Quem escreve, o estilo literário. Quem desenha também seleciona. Selecionar é separar. Separar é deixar outras coisas de lado. Selecionar é dar atenção especial.
O que produzimos, também sob esta ótica, nos denuncia.
Eu gosto de observar o corpo, o ser humano. Tem gente que gosta de paisagem, outros de animais, outros de sei lá o que. 'Cada é um é cada um', já dizia o filósofo. Me encanta observar as expressões, o desenho do rosto, a harmonia encontrada, algumas vezes, no desencontro. E quando tento observar de outro ângulo, aí é mesmo uma viagem.
Dia desses, uma amiga observando minha concentração nos rabiscos do sketch, sabiamente afirmou:
'Prá você não tem tempo perdido. Com papel e lápis tudo pode vira diversão." Adorei.
Doutra feita, fiquei preenchendo o sketch durante o culto e, ao final, uma outra querida amiga pediu, muito educadamente, permissão para me abraçar. Como assim? O que houve? Pensei. Depois do abraço afetuoso ela falou baixinho ao lado do marido: "Estava observando seus desenhos e me encantei!" Não fiquei vermelho porque minha cútis não permite.
Desenho de observação é vida. Vida porque aquele olhar, aquele ponto de vista é só seu. Se cada corpo ocupa um lugar específico no espaço. Este espaço é seu, só seu. Quando você, exercitando o desenho, reproduz uma foto, uma imagem já impressa - seja por que meio for - você está sendo conduzido ao enquadramento, à seleção feita anteriormente por uma outra pessoa. Este é um dos valores do desenho com modelo vivo. Toda seleção precisa de um enquadramento (campo) e todo campo denuncia que havia algo a mais, alguma coisa ficou de fora (extra-campo). É aquele execício tão comum de encontrar uma forma de enquadrar para fotografia num pequeno espaço, excluindo o indesejável.
Da próxima vez que for desenhar, fotografar, cantar, tenha mais cuidado e observe. Observe atentamente, olhe para dentro, e veja o que te 'empurrou' para gostar dessa ou daquela música, desse ou daquele estilo literário. Observe de que você se serve.
 "Os olhos são a janela do corpo.  Se vocês abrirem bem os olhos com admiração e fé, seu corpo se encherá de luz' (Mt 6.21 - A Mensagem)










Caneta de retroprojetor sobre papel kraft e também sobre papel colorplus. A cor foi feita com caneta esferográfica colorida e o branco com caneta corretiva.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Som e Arte

Som e Arte é uma instituição de ensino ligada, como o nome denuncia, a música e a expressão artística por meio dessa linguagem. A coordenadora do projeto apaixonada por arte viu minhas ilustrações expostas durante o Congresso de Mulheres de minha igreja. A professora Lydia Belle gentilmente me ligou pedindo que eu participasse do Recital da Escola que aconteceria no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista. Aceitei o convite e levei a série de desenhos que produzi como caneta de retroprojetor e lápis cera. Utilizei a caneta como se fosse um lápis, entendendo que a construção dos 'rabiscos' iniciais fazem parte do processo. Gostei muito do exercício. Prova disso é que fiz mais de 30 desenhos numa escala diferente da que normalmente trabalho. Os desenhos ficaram expressivos e para preservá-los um pouco mais fiz a fixação com cola branca. Durante a apresentação, como não poderia deixar de ser, fui fazendo meus 'rabiscos' ao vivo num sketchbook. Os alunos adoraram e eu também me diverti um bocado.





Desenhos feitos assim, ao vivo, com o modelo em movimento é um exercício pra lá de desafiador.



terça-feira, 14 de outubro de 2014

A Mona Lisa

O que há de tão especial neste quadro que faz as pessoas se acotovelarem para vê-lo de mais perto?
Eu, apaixonado por arte, sempre me deparo com essa e outras perguntas.
Vou tentar enumerar 10 razões que fazem de 'a sorridente' (é este o significado de Gioconda) um dos quadros mais valorizados do mundo. Ele pode parecer um 'quadrinho' de nada mas, cuidado, as aparências enganam.
1. Este é, segundo o próprio autor, a sua obra prima. E você sabe que obra prima é a primeira numa escala de valores, a mais importante? Ninguém nega a genialidade do grande Leonardo da Vinci então, todo mundo reverencia e tenta entender a escolha que ele mesmo fez.
2. Ela é um marco na pintura pela apresentação da técnica do sfumato. O nome já diz: esfumaçar. Esfumaçar os contornos, tornar a linha do desenho indefinida. Também é, a partir deste quadro, que surge o padrão de pintar, dar foco apenas acima dos seios - 'o busto'.
3. É uma obra que traz um forte conteúdo histórico, entre outras coisas, por representar o 'comportamento social' de sua época. Além de ser o destaque no maior Museu de Arte do mundo.
4. Sempre existiu uma 'aura de mistério' em torno desta obra, desde a identidade do modelo até o costume de Leonardo levar a "Mona Lisa' para todos os lugares onde ia. E, além disso, durante as guerras, o quadro sempre ficou escondido.
5. Personalidades famosas apaixonaram-se pela obra. Napoleão ficou apaixonado pela obra e 'tomou posse' dele. Freud usou o quadro como metáfora a atração erótica entre filho e mãe.
7. A obra foi roubada e acusaram um poeta e, nada mais, nada menos, que Pablo Picasso de a roubarem.
8. Ela sofreu vários atentados internacionais. Um 'doido' jogou ácido, outro jogou uma pedra e até uma xícara de café foi lançada contra o quadro.
9. Este é um dos quadros mais valiosos do mundo.
10. O quadro tornou-se um ícone cultural. Pintores, músicos, cineastas, gente da literatura e de todas as formas de manifestação artísticas já reinterpretaram esta obra.
Tive o privilégio de visitar o Louvre, entrar na sala em que o quadro está exposto (ele muda de lugar) mas confesso que só olhei a obra de longe. Nada vai retirar o valor que ela carrega, mas me recuso a ficar 'brigando' para reparar o que não dá para ver sem cuidado. Claro que a maioria dos visitantes querem dizer: eu vi a Mona Lisa. Todo tipo de comentário só reforça a  magnitude desta obra. Infelizmente, não dá para 'sofrer o impacto' da emoção na hora, no primeiro contato, sem entender pelo menos, esse 'feijão e arroz' da obra. Sugiro que, se você quer mesmo ver, estudar, apreciar a obra prima de Leonardo, pesquise a história e repare os detalhes numa reprodução confiável:
http://www.louvre.fr/oeuvre-notices/portrait-de-lisa-gherardini-epouse-de-francesco-del-giocondo
E, quanto for lá, não se recuse a ver A MONA LISA.



sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Produção independente para livros infantis

Este é um exemplo do processo da produção de um livro independente.
Uma. produção deste tipo exige um esforço financeiro grande do autor mas, se o livro for aceito pelo mercado, o retorno é muito, muito melhor.
Quando um livro é produzido por uma Editora ele passa por um longo processo de avaliação. Esta avaliação, de forma geral, diz respeito ao mercado, ao público alvo, ao retorno do investimento, ao custo-benefício deste novo 'produto'. Por isso, novos autores tem muita dificuldade para ter seu texto aprovado. No caso de aprovação, que pode durar até um ano, o autor, normalmente, não acompanha o processo e só vê o livro pronto, finalizado. Como prescreve a lei, o autor recebe cerca de 10% do 'custo de capa' da tiragem produzida, de forma parcelada.
Quando o autor decide fazer uma produção independente ele está fazendo o papel da Editora, ou seja, é ele quem está assumindo todos os custos. Justamente por isso, numa produção independente, tudo deve ser acordado minuciosamente antes do início do processo para não 'azedar' a relação.
Cada ilustrador tem seu próprio critério e alguns não aceitam, nem gostam de produzir livros assim.
No meu caso, de forma bem geral, sigo as seguintes etapas:
1. Recebo os originais do autor e conversamos sobre os sonhos, o público alvo, a tiragem, o número de páginas, o projeto de venda  e veiculação e tudo mais que envolve a obra. É fundamental, como em todo relacionamento, que haja empatia e confiança. Aqui se inicia um 'plano de voo".
2. Elaboro um orçamento dos custos de arte - meu trabalho - e pesquiso no mercado a referência de custo da produção gráfica do material. Esta referência pode modificar em função do tempo de produção e, consequentemente do tempo de entrega do material para ser impresso. O material pode levar de um a três meses para ser entregue dependendo do número de páginas.
3. Depois de aprovado os custos e prazos, desenvolvo uma 'boneca' (simulação à lápis de como será o livro respeitando inclusive o formato final). Este é o momento de mostrar o 'plano de voo' para que tenhamos segurança do caminho que já estamos percorrendo. Este é o momento de ajustes, do retoque, da discussão e avaliação do que foi planejado e da afinação com o que está sendo executado.
4. Hora do ajuste, do 'pente fino'. Emenda aqui, correção ali e uma ilustração colorizada para a visualização ainda mais refinada de como será o produto final.
5. Finalização e fechamento para gráfica. Ultima revisão do texto para não sair nenhum erro. Montagem de uma 'boneca', agora colorida e montada para servir de referência para gráfica. Entrega dos arquivos. São duas cópias, uma para produção na gráfica e outra para o arquivamento do autor.
Todos os originais pintados ficam com o ilustrador. Em alguns casos o autor solicita uma cópia das ilustrações para fazer quadros.





Modelo enviado para o autor de como ficará a ilustração de página dupla finalizada. Observe que toda estrutura da página foi definida na boneca à lápis. É a mesma imagem, agora finalizada. A dobra está bem no centro da imagem e a intenção, neste caso foi determinar, por meio do contraste cromático, dois sentimentos contrastantes num mesmo momento da história. Este é um exemplo do que chamo de ritmo do texto. Mas este é um papo para outra postagem.