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quarta-feira, 27 de março de 2013

Desenho ao vivo

Desenhos feitos na rua, no ônibus, ao vivo exigem assumirmos acidentes, alguns felizes. É preciso ter um mínimo de tempo para selecionar o tema, o personagem e o ângulo a ser retratado. O que vale a pena ser feito, já dizia o filósofo, vale a pena ser bem feito. Desenhar 'in loco' exige resolver alguns problemas que a fotografia resolve automaticamente. Me refiro especialmente à luz e a sombra. O desenho ganha volume pela construção conseguida pelos riscos e tentativas de arrancar forma do papel. Deformações são, ou melhor, acabam fazendo parte desse exercício. A magia está em transformar qualquer espaço em ambiente artístico e ver beleza no cotidiano. Não sei se você sabe que é muito difícil  e custoso, ter um modelo vivo a disposição. Esse tipo de exercício exige rapidez, sintetização e, em alguns casos, criatividade. O 'modelo-tema" não 'congela' e o registro visual é um exercício que trafega entre a angustia e a satisfação. Essa foi uma forma, para mim, de preencher duas necessidades da arte: educar o olhar e dominar o traço.

terça-feira, 26 de março de 2013

Analógio ou digital?



Primeiro as três semelhanças:
O artista que fez o desenho é o mesmo, (prazer, eu) os 'riscos" que serviram de base para o desenho e o fundo aplicado também.
Agora, descubra as seis diferenças.
1.Em cada arte utilizei uma técnica. Um foi colorizado no computador e outro com lápis Berol Prismacolor.
2. Um deles tem traços finalizados com caneta futura o outro não possui as linhas.
3. Um tem as matizes e a textura do papel-suporte outro não.
4. Um é facilmente corrigido o outro...é melhor refazer.
5. Num deles gasto, pelo menos, o triplo do tempo do outro.
6. Um a luz e sombra são 'lisos' quase fotográficos o outro nem tanto.
E você o que acha? Qual a técnica que mais te agrada?

Dê sua opinião e me envie por e-mail o endereço com o título - semelhanças e diferenças - para eu, quem sabe, enviar um presente.
tracooriginal@hotmail.com

segunda-feira, 25 de março de 2013

Ginga brasileira



Minha paixão esportiva representada em forma de bola, cor e traço.
Rio de Janeiro, samba, futebol e ginga brasileira.
Desenho vetor.

Sentimentos, sensações e registro


 Uma das melhores metáforas visuais do tempo que vi no cinema foi a do crocodilo como um relógio, no filme de Peter Pan. E o coelho da Alice? Sentimentos não tem nenhuma ligação com o cronos escravizante. Sentimentos povoam nossa mente e alma. Se tem uma coisa que fica em segundo plano, quando se trata de registro, é sentimento. Ouvi isso numa aula de fotografia. Dizia o mestre, conceituando a foto jornalística: "não se pode é perder, em hipótese nenhuma, o  momento. As questões técnicas são realmente importantes e ajudam à refrescar e valorizar o momento mas  perder o registro, nunca. Acabo de constatar a verdade desse ensino revendo um desenho feito a uns quinze anos atrás. O carinho, o cuidado e atenção de minha esposa com meu filho depois de fazer a nebulização. Ainda parece ecoar nos meus ouvidos, sua voz suave e delicada quase cantarolando para o pequeno Matheus: "vai passar essa dorzinha, vai passar...". Graças a Deus registrei isso! Ainda encho meus olhos de lágrima e emoção ao recordar isso. Ah! Esse desenho foi feito sobre papel craft em pastel seco.

Subjetividade logo santidade


Grande parte do trabalho que ilustro está no campo da subjetividade. Esses conceitos habitam no íntimo do sujeito, são metafísicos, etéreos. O desafio é transforma em concreto, visível, o que é por natureza místico.
Daí recorrer à ícones, símbolos clássicos e estilizar, combinar, adaptar e aproveitar a força comunicativa que eles trazem. Costumo justificar, explicar a construção para facilitar a compreensão e potencializar os conceitos. Não me angustio com esse tipo de tarefa, encaro como desafio para pesquisa e aprofundamento filosófico. O próprio Jesus utilizou o recurso das parábolas para tornar inteligível esse universo da subjetividade.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Jesus e as crianças brasileiras - Traço transpirante


Estimulado pelo  grande mestre Celso Mathias resolvi, não sem muita reflexão, compartilhar meus riscos originais, sem finalização. O grande tatuador e parceiro de estudos, Luis Berbet também fez coro com o mestre para que eu não destruísse o 'frescor' do desenho original. Respirei fundo e depois de mais de dois meses ruminando o conteúdo dessas palavras resolvi postar. Aí está o rough (rafe) - para os intelectuais da arte. Para esse neguinho apaixonado por arte meus rabiscos, meus traços, minha satisfação e brinquedo. Divulgar esses desenhos é mais um ato de coragem e despudor. É mostrar minhas entranhas, meus sonhos e monstros (logo postarei alguns, tenha paciência). Fazer isso é, desculpe a comparação chula, como dar um arroto em público. Vou vencer mais essa.


Autorizado pela Junta de Missões Nacionais (www.jmn.org.br ) estou divulgando, em primeira mão, a ilustração de capa do Caderno Infantil da Campanha 2013. Tive a honra de, mais uma vez, ilustrar esse material da JMN e agora ilustrar a capa. Fiz os 'rabiscos' como vc pode ver acima e colorizei tudo à mão com aquarela.
Abaixo vc vê alguns detalhes e os contornos todos feitos com caneta bic azul.


Jaqueline, responsável pela editoria infantil e parceira nesse trabalho afirmou: "Ensinar crianças é uma tarefa desafiadora e não deve ser feita de qualquer forma." E, cá pra nós, quem em sã consciência não concordaria com ela?

terça-feira, 19 de março de 2013

Historias que Jesus contou

Jesus gostava de contar histórias.
Para ocupar a quarta capa da revista Sorriso, fiz esta série de ilustrações destacando a cada trimestre uma das histórias contadas por Jesus.

Creio que para refletir sobre elas devemos ler o texto indicado e procurar algumas respostas:
Para quem a parábola foi contada?
Porque a parábola foi contada?
Qual é a moral da parábola?
Existe algum ponto culminante na parábola?
Alguma interpretação é dada na passagem para a parábola?





segunda-feira, 18 de março de 2013

Influência e busca de si


Encontrei esse original de 1989. Impressionante a influência do grande Rui de Oliveira nesta ilustração que fiz. Estava estudando o trabalho dele e tentando entender (veja que não é de hoje) como um artista, mesmo sem assinar, deixa sua marca no trabalho.
Tive a honra de manter um breve contato com o Rui de Oliveira numa premiação da Prefeitura. Dois anos antes, tempo que prestei vestibular e visitei o campus da UFRJ ele era professor de arte naquela instituição e diretor de arte da TVE. Lembro muito bem do que ele falou: "vai ser difícil você conciliar essa sua crença com a sua arte". Confesso que não me lembro se compartilhei alguma coisa relacionado à minha fé, ou foi algum amigo que falou com ele. Minha querida esposa estava perto e achou deselegante a forma como ele se dirigiu a mim. Eu, ao contrário, sempre gostei dessa forma direta, franca e acumulada de vivência. Até hoje reflito no que o Rui falou. Acho que ele estava certo,pelo menos em parte. É mesmo difícil. Não acho que é difícil conciliar arte e fé. Difícil  mesmo é colocar o que está dentro da gente em forma de arte. Creio que quando essa maturidade artística ocorrer, fatalmente a arte vai expressar, de suas múltiplas formas, o que cremos. Não há nenhuma confissão de fé nos comedores de batatas de Van Gogh. Mas o grande artista não precisou de nenhuma palavra, mas o grito de sua fé está ali.
Tenho buscado isso e percebido duas coisas básicas. Primeiro que é imprescindível ser integro, verdadeiro e corajoso e, em segundo lugar isso não tem nenhuma relação com o tempo cronos.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Uma história comovente transformada em ministério


Cotado ou coitado

Tenho a honra de ser amigo de Celina Veronese. Celina é líder da organização Mensageiras do Rei faz muito tempo. Além disso é redatora de dois periódicos que inspiram, informam e educam a molecada adolescente. No início desse ano, atendendo a pauta editorial Celina me liga e convida para eu colaborar com a edição deste trimestre apresentando minha perspectiva sobre a lei das cotas (nº 12.721) para negros nas universidades. Logo que começamos o contato disse a ela que minha opinião divergia, não do 'espírito da lei de compensação histórica', mas do absurdo abismo na falta de investimento e novos horizontes para a formação desta nova geração que surge. Pois bem, minha amiga perguntou se eu teria coragem de expressar minha opinião e, mais que isso, dar meu testemunho pessoal. Encarei o desafio. Escrevi o texto e ela, com toda perspicácia e sabedoria acumulada ao longo desse tempo, melhorou em muito o texto que escrevi. Colaborei também com esta ilustração que graciosamente foi inserida na capa da revista. A imagem de fundo é uma estilização do google earth da UERJ. Brinquei com o titulo COTATO ou COITATO.
A  ilustração foi colorizada em vetor. Segue o texto como foi publicado. A Revista Você Adolescente pode ser adquirida através do telefone (21)2570-2848. O Site da UFMBB é: www.ufmbb.org.br



Ah,Co(i)tado!
A chamada Lei das Cotas (Lei nº 12.711) passou longe da aceitação popular e bem perto de acaloradas discussões e questionamentos. Esta Lei obriga as universidades, institutos e centros federais a reservarem para candidatos cotistas metade das vagas oferecidas ao longo dos próximos quatro anos.
Cotado diz respeitoàquele que tem valor, conceituado e coitado é o que é digno de pena. Você, segundo a Lei é cotado ou coitado? Se a educação é para todos, porque só alguns têm acesso a ela de forma digna? Por que no chamado ensino superior uns conquistam a vaga pelo conhecimento e outros só tem valorpela cor da pele ou pela condição socioeconômica?
Que me desculpem os apaixonados defensores das cotas, mas graças a Deus e as nossas leis, tenho o direito de expressar minha indignação e contrariedade com esta Lei. Reconheço que existe um grupo muito bem intencionado com a ideia das cotas. Precisamos mesmo compensar essa história de discriminação. Mas, porque o número de cotas vai aumentar e não diminuir? Se investirmos progressivamente em educação de qualidade para todas as pessoas, e na base do ensino, não haverá necessidade de cotas para os “coitados”, não é mesmo?
Sou negro, meus primeiros anos de vida foi numa favela (desculpe, o politicamente correto é falar comunidade) no Rio de Janeiro. O amor de Jesus alcançou minha família e, graças ao cuidado da igreja - corpo de Cristo - fomos amparados. Cresci com outros meninos que tinham uma condição financeira muito superior à minha. Crescemos aprendendo que todos somos amados por Jesus. O Pai é nosso e o pão também é nosso (Mt 6.11).Na igreja e também na escola, eu conseguia acompanhar bem o que era ensinado. Tudo era bonito, as cores, as pessoas, como a beleza de uma caixa de lápis cor, até que cheguei ao final do antigo ginásio – hoje ensino básico.Um clima de competição começou a reinar na escola.Tínhamos que fazer prova para continuar estudando em escola pública.  Caí na ingenuidade de perguntar o porquê disso? A resposta foi direta: são poucas vagas e muitos alunos, só os bons podem fazer o segundo grau – ensino médio. Novamente a igreja ajudou.Já estávamosmorando em outro bairro.A líder dos adolescentes era também professora do Estado. Ela, carinhosamente, nos explicou como seria a prova, o que teríamos que estudar e ainda se prontificou a ajudar os interessados. Que sufoco, que pressão! Consegui ser aprovado numa escola bem longe de onde morávamos. Com a escassez de dinheiro – não exista a gratuidadepara estudantes –passei a ter que conciliar o tempo entre trabalho e escola se quisessecontinuarestudando. Cresci ouvindo: “preto tem que ser ótimo meu filho, para o verem mais ou menos”. Ninguém merece isso! Mas, ao mesmo tempo em que isso acontecia, meu pastor, meus líderes iam compartilhandocomigo conceitos e histórias bíblicas como a de José. O filho queridinho de Jacó que quando foi para o Egito continuou crendo em Deus e fazendo o melhor possível. Histórias como as de Daniel e seus amigos que resolveram não se contaminar. Adolescentesque oraram e desenvolveram uma disciplina tão grande que acabaram sendo os melhores no teste do rei da Babilônia. Lembra disso? (Dn1 e 2). Em minha cabeça essas histórias se misturavam com a realidade que eu vivia.
E eu ainda sonhando ser artista! Na família, a recomendação era: vá para o serviço militar. “Lá não existe tanta diferença”. Uma tia querida, mais corajosa e cheia de amor dizia: “Já viu artista crioulo? Só se for sambando ou jogando futebol.” Pois foi assim, ouvindo isso em casa e sofrendo a pressão na rua que cresci. Um de meus conselheiros, quando ouvia algum tipo de reclamação, ironicamente recitava: “...pobre de ti se pensas ser vencido sua derrota é caso decidido...” . Vez por outra, me fazia lembrar da frase que estava no portal de entrada do acampamento do Sítio do Sossego: “Deus nos deu serras para subir e forças para subi-las”. Até hoje meus olhos se enchem de lágrimas ao lembrar isso. Lutei muito, teimei muito, fui,como minha mãe disse “um cabeça dura”. Estudei muito para ser aprovado em uma Faculdade de pública. Pareceu até milagre quando vi meu nome na lista da UFRJ. Fui fazer a matrícula e voltei sema inscrição. O curso exigia tempo integral. Como iria deixar de trabalhar? Quem iria pagaro transporte,a comida, o material para que eu estudasse? Não aceitei que minha mãe trabalhasse ainda mais para “sustentar meu sonho doido”. Larguei tudo, odiei esse mundo injusto e fui dedicar-me ao trabalho. Meus chefes me vendo triste perguntaram o havia. Compartilhei a tristeza e fui estimulado a continuar lutando que logo eu seria promovido. Agarrado à igreja, como agora líder dos ER e professor da EBD fui parar no Seminário. E foi lá, no STBSB,que entendi que Deus não chama apenas pastores e ministros de música para o seu serviço, Ele convoca a todos, inclusive artistas (Ex 32. 2 a 5). Essa é Multiforme Graça de Deus. Procurei o pregador daquela noite. “Existe uma vontade de Deus para você. Descubra-a!”Voltei para as artes e pensei: quem sabe mais tarde volto para o seminário. Encarei o desafio. Fiz Licenciatura em Artes Plásticas, durante quatro anos, no Instituto Metodista Bennett. Ganhei uma bolsa participando do coral e ainda um valor em dinheiro colaborando com o jornal da instituição. Vivi intensamente o preconceito. Fiz parte, por um tempo, do movimento negro, mas hoje prefiro acreditar numa ‘conspiração divina’. Gente de qualquer condição que recebe amor, cuidado, orientação, esperança através do Corpo de Cristo, sem alarde, sem palanque, realiza o que busca. Cristo está aqui entre nós por meio de sua igreja (1 Co 12.27). Vamos gritar contra a injustiça, discriminação, preconceito, mas vamos agir, vamos fazer algo em prol da justiça, igualdade e valorização de todo ser humano. Meu amigo de cor (pretinho, moreninho, neguinho, marrom e tantas outras formas de colorizar a gente), meu parceiro, minha parceira de berço e de história, largue essa idéia de acomodar-se com a cota. Supere-se! Vá além da cota (e além da conta)! Ocupe o seu espaço pelo que você tem dentro e não pela cor que o apresenta do lado de fora. Faça como o apóstolo Paulo ensinou. Quem me fortalece é que faz com que eu possa todas as coisas. (Fl 4.13).

Logo Ubatuba


A comunidade eclesiástica a que pertenço, de vez em quando, faz campanhas de ação social e evangelismo fora do estado do Rio de Janeiro. Desta vez o grupo segue para Ubatuba. A cada movimento desse me envolvo contribuindo com a arte e a identidade visual do projeto. Desta vez, tudo foi feito e planejado em menos de três meses. Uma loucura! Na penúltima semana anterior ao evento o pastor e coordenador disseram que, infelizmente não teríamos tempo de uniformizar o pessoal e, sendo assim, deixariam de lado a ideia de utilizar uma arte que os identificasse na cidade. Graças a Deus o que investimos em termos de educação visual começa a dar seus frutos. Os voluntários missionários se reuniram e pediram uma marca que os identificasse como foi feito nas outras campanhas. Fiz uma rápida pesquisa, rabisquei um bocado e sintetizei a ideia desta forma.
Uba significa canoa. É um nome indígena. Tuba significa lugar. Sendo assim deduzi que o nome significa lugar de 'ancorar' as canoas, uma vez que é um lugar de praias. Estilizei o sol em forma de cocar indígena e 'brinquei" com as letras 'uba, uba', quase oba, oba. Curioso é que a letra "T" que pode ser vista como uma cruz está exatamente no meio da expressão uba. Depois do conceito definido selecionei um trecho das Escrituras que fundamentasse essa 'viagem' gráfica. Quem sabe mais tarde posto o pessoal usando o uniforme. Alguns trabalhos não são remunerados mas, com certeza, não têm preço.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Andar com fé e andar na ponta do lápis

Andar com fé na ponta do lápis é uma frase que tem dois tipos de leitura.
Leia como quiser...
Viver de arte nessa realidade brasileira é viver por fé.
Mas também não dá pra andar com a ponta do lápis por fazer se você não sabe o que vai aparecer diante dos seu olhos enquanto caminha.
A ponta do lápis tem que estar pronta.
Que desafio maiúsculo viver de fazer desenho confiando no que aparecerá para ser feito.


Pássaro no paletó


Um dos textos que li, escrito pelo pastor João Falcão Sobrinho, me estimulou a fazer essa pintura com pastel oleoso sobre papel Kraft. O texto deixa claro que a questão não é ter um fiapo de palha preso ao paletó. Mas se a gente encontra um ninho no bolso algo foi feito durante o tempo que você deixou a indumentária de lado. Será que estou deixando o passarinho fazer ninho no meu paletó?

Layout Zé da letra



Esse foi um dos desenhos apresentados do miolo de um livro - Zé das Letras - que estava naquela relação de prováveis reedições da editora. O investimento na reedição de um livro, com novo formato, ilustrações e nova produção gráfica é muito pesado. Normalmente um bom livro começa a dar lucro a partir de sua reimpressão. Todos os custos de produção são amortizados. Essa compreensão administrativa fez com que eu aceitasse passivamente a recusa do orçamento que apresentei. A gente sempre fica triste com um trabalho que não será publicado mas, não há como ficar magoado ou revoltado com recusa dessa espécie. O orçamento foi solicitado e, em momento algum a editora me pediu que produzisse alguma imagem. 
Fiz porque quis e não me arrependo disso. 

Debaixo da sombra divina

 Depois de quatro anos estudando teologia, de quase meio século convivendo num ambiente evangélico ainda me incomodo com alguns jargões deste meio. Explico. Quando alguém diz "O Senhor me falou" o que você vai dizer, como vai questionar essa 'epifania'? Seria muito mais sensato ouvir: "não quero publicar suas ilustrações no livro. Desculpe, mas não desejo investir numa publicação com o nome do ilustrador na capa, junto ao meu."  Creio, se me conheço bem, que eu acataria, respeitaria e nem mesmo investiria tanto tempo executando os desenhos. Mas, reconheço que é preciso ter muita coragem e temor divino para dizer isso. Esse mistério de conversar pessoalmente com Deus, de receber revelação específica não cabe discussão. Mas, convenhamos, não dá pra revelação específica, epifania ou seja lá qual for a definição que usarmos, se opor a 'verdade revelada' nas Escrituras. Há um registro (Bíblia) ao alcance de todos os que professam o cristianismo, do caráter, do jeito e dos princípios adotados pelo criador que não poderiam ser ultrapassados. A questão, em alguns casos, é 'rotulamos' algumas coisas, pessoas e até mesmo  nossas vontades com a etiqueta "deus". E aí não há o que discutir.










Já tive, como comentei nesse blog, ilustrações recusadas quando o autor  descobriu minha confissão de fé. "O menino do samba". Essa foi a primeira vez que ouvi "Deus me revelou' que as ilustrações são os meus originais com algum ajuste. Dá pra dar um jeitinho?" Lembrei da construção do Tabernáculo (Êxodo 31). Apesar de toda importância, capacidade, liderança de Moisés o Senhor habilitou, capacitou e escolheu Bezaleel e Eliabe para executarem todo o trabalho artístico dos utensílios sagrados.
Bezaleel significa debaixo da sombra de Deus.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Arte terapia ou terapia da arte?

Acordo bem cedo. Gosto disso. Bom mesmo é acordar e andar, andar e andar. Suar a camiseta e sentir vida saindo através dos poros. Outro dia acordei disposto a investir nessa rotina mas as dores estavam insuportáveis. Tive vontade de chorar. Não sei se de dor ou de raiva de não ter 'vencido' essa batalha da superação. Vim para o estúdio mais cedo e fui fazer faxina. Não ria, a parada é séria (kkk). Comecei a arrumação e dei de cara com a foto e o olhar impactante dessa menina africana. Larguei o trabalho da arrumação e num impulso rabisquei esse desenho. O treco funciona! Melhorei o humor e decidi estudar arte-terapia ou terapia através da arte...

Caricatura ou desenho estilizado

Tenho tentado definir os termos para evitar maiores desgastes com os clientes. Acho que faço isso porque não sou do tipo de esbravejar e brigar com os clientes. Enxergo um ser humano por trás de um pedido e, em alguns casos, me envolvo com a necessidade dele. Esse tipo de atitude mais emocional não combina, em nada, com a pragmática profissional. Aí normalmente, pago o pato. Muitas vezes tentando dominar meus demônios interiores 'engulo meus sapos'. Incrível perceber, durante o barbear de meu rosto pigmentado de tantos cabelos brancos, que isso não tem nenhuma relação com a idade. Um conhecido meu, irmão da igreja em que congrego, pediu para eu fazer uma caricatura de sua amada. O senhor, cheio de sensibilidade contou e destilou, como diz Raimundo Fagner "borbulhas de amor" de sua relação conjugal e seu profundo desejo de agradar o ser amado. "Vi a caricatura que o irmão fez do pastor. O irmão vai me ajudar a agradar minha querida. Faz uma caricatura dela para mim?" Pulei de susto. Perguntei que a caricatura da mulher amada era para ele ou ele faria do desenho uma agrado para ela. "Vou dar um presente especial" - ele justificou. Tentei ser simpático, achei um grande risco fazer uma caricatura sem explicar. Passei para ele o texto que publiquei : Cuidado é uma caricatura!
Tenho impressão de que o cara não leu nada. Expliquei verbalmente o que escrevi e disse que se ele insistisse correria o risco do 'tiro sair pela culatra' e arrumar um embaraço com a paixão que estava tentando reaquecer. Não adiantou. Acho que a gente vai ficando mais velho e também mais 'surdo' para algumas verdades.
Acabei aceitando a encomenda. E agora? Tentei encontrar um caminho alternativo. Transformei a foto referência (bem ruim) em desenho à traço, simplificando as formas. Procurei suavizar um pouco as linhas de tempo marcadas naquele rosto (um dia vou estudar esses registros que o tempo vai fazendo em nós). É muito esquisito e arriscado buscar um caminho alternativo, um caminho mais gráfico para quem não tem contato com esse mundo digital. De qualquer forma cumpri a tarefa e até gostei do resultado.
Agora fico aqui refletindo se esse foi mesmo o melhor caminho. Já ouvi a tanto tempo, sei que para alguns é tão fácil (Freu explica), mas ainda estou processando esse processo de dizer não.