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segunda-feira, 28 de julho de 2014

Lançamento do livro na Livraria Cultura

Fazer desenho para livros infantis é um prazer. Prazer maior é ter contato com as crianças na festa de lançamento.
Não poucas vezes sonho com o dia em que o livro será produzido junto com elas, antes de enviar para gráfica. Faz toda diferença!
Criança é tão legal em sua sinceridade! Isso me encanta. Se não gosta fala logo lá, na lata, sem rodeios. Se gosta mas não entende deixa claro a dúvida e pergunta. Se gosta e curte mesmo, solta cada uma...
Quando produzo ilustrações para um livro, especialmente em produção independente, nunca imagino o custo do pós venda. Sou apaixonado e esta é uma dimensão administrativa a ser avaliada numa outra postagem, quem sabe.
Um lançamento de Livro na Livraria Cultura é, sem dúvida, Top. O lugar é mágico. O espaço criança é tão bom que para que você entenda, basta eu reproduzir o que ouvi de uma criança no final do evento: 'mãe deixa eu morar aqui'. Preciso dizer mais alguma coisa?
Já participei de lançamentos frios, mornos e quentes. No lançamento frio a gente fica sentado numa mesa aguardando os compradores para solicitarem um autógrafo. No lançamento morno, a gente explica o que foi feito, responde perguntas, se comporta direitinho e vai para o momento de autógrafos. O lançamento quente é um espetáculo. Tem performance, teatro, contação de história (desde que não seja a do livro), uns tira-gostos (não sei o por que desse nome, deveria ser bota gosto.) No Caso deste Livro: Musicalizando com alegria de Mônica Coropos e Deise Lousada, é claro que não poderia faltar música, e música boa.
A gente cantou, pulou, dançou, desenhou... só faltou mesmo os 'bota-gostos'.






















sexta-feira, 25 de julho de 2014

Toulouse me ajuda a ler Mateus

Não é de hoje que confesso minha paixão pelo trabalho de Toulouse-Lautrec.
Me identifico com ele pela convivência com a dor.
Há proximidade também pela artes gráficas, pelo estilo solto e pelo uso traço feito, muitas vezes com pastel
Algumas diferenças nos humanizam. Ele da aristocracia parisiense, eu do subúrbio carioca, os dois convivendo com a dor. Não há humanidade sem dor. Não há artista sem dor. A dor nos aproxima e nos humaniza. Ela, a dor, pode nos impulsionar à arte. "Ostra feliz não faz pérola".
Toulouse sofria de uma doença desconhecida em sua época. Tinha uma debilidade óssea que comprometeu seu crescimento. Depois de dois acidentes em sua juventude fraturou o fêmur das duas pernas, um aos doze outro aos quatorze anos. O resultado disso é que  Henri Toulouse-Lautrec desenvolveu o corpo normalmente mas ficou com as pernas pequenas, como de um menino.
Volto a pensar em Toulouse toda vez que minha esclerodermia se apresenta.
Estou revendo suas obras sonhando com os dias em que estarei passeando nos lugares em que ele viveu.
O contorno, a linha,o traço era a 'marca registrada' de Lautrec. Não se vê sombras em suas pinturas. Suas obras sempre incluíam pessoas e o suporte, quando em papel, era frequentemente amarelado.As sombras em Lautrec estão estampadas em seu abandono da aristocracia e o mergulho inconsequente à bebida. Mas é lá, justamente nesse ambiente, que ele dá vida e dignidade aos sofridos.

"A feiura, onde quer que esteja, tem sempre um lado belo; é fascinante descobrir beleza onde ninguém a consegue ver", dizia ele.

Fazer arte, mais do que nunca, vai além da habilidade motora. Produzir arte é educar o olhar, processar o contexto nas entranhas e expelir, transformando parte disso em imagem.
Processei assim o que Mestre dos mestres ensinou com o que Toulouse retratou em sua obra: O que você define como realmente importante, o imprescindível, este é o seu tesouro.O coração é a fonte dos sentimentos. Observe, os sentimentos estão cativos às suas prioridades. Por isso, onde estiver o seu tesouro, lá você encontrará seu coração. Este é o motivo para se ter cuidado e critério na seleção do que é consumido. Comemos com os olhos. É preciso desenvolver um olhar seletivo. Este olhar seletivo é a lanterna do corpo. Se a seleção for honesta, verdadeira, tudo o que sair de você deixará claro a sua forma de ver o mundo.



quarta-feira, 23 de julho de 2014

Quem é quem? Isabel e Isabela

Tem gente que a gente gosta porque gosta. 
Gosta sem conhecer direito. 
Gosta porque se identifica com nem sei o que. 
Tem gente que carrega uma magia, um mistério...
E quando são gêmeas?
As duas, Isabel e Isabela, quanto tocam violão então... eu enlouqueço.
Se olho as mãos e o dedilhado e, em seguida desvio o olhar para identificar já não sei mais quem é quem.
Vivi esse misterioso estranhamento no início da adolescência. Estava muito tenso, iríamos jogar com a melhor equipe das redondezas. Era o time da igreja batista de Acari. Eu era o goleiro. Os caras tinham fama de implacáveis. Saí de casa sabendo que levaria uma sacola de gols. No meio do jogo gritei: pelo amor de Deus marquem esse cara! Ele está em todo lugar! Assim não dá!
No final do jogo, depois de uma derrota estonteante, fui apresentado aos gêmeos craques de bola.
Ricardo e Renato Cordeiro.
Que negócio é esse de gêmeo?
E o que falar dos artistas Chico e Paulo Caruso?
Fui para casa e até hoje tento entender esse mistério.
Parabéns lindas Isabel e Isabela.
Só duas coisas:
1. Não me peçam explicações do tipo: porque não me desenha?
2. Não me perguntem, por favor, quem é quem.


Folhas do meu sketchbook em 2012

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Desenhos, algumas vezes, são como orações.

Desenho de observação feito em 1986. Lápis 6B sobre papel Canson.
Madrugada, depois da aula, em frente ao espelho 'emprestado' do banheiro.

Desenhos, algumas vezes, são como orações.
Quanto mais fiel à representação, quanto melhor a cópia, maior a falsidade.
É verdade. Desenhos 'perfeitinhos' mentem.
E é o tipo de mentira que todo mundo ama.
É preciso muito domínio da técnica, de educação do olhar, de aprendizado na escola para fazer um desenho 'igualzinho' a foto, à outra imagem.
Algumas orações, especialmente em público, são assim. Perfeitinhas.
Mas desenho de observação é diferente.
Desenho de observação é único. Sempre único. Sempre verdadeiro.
Desenho de observação exige escolha do ponto de vista. Desenho de observação impõe foco. Não se pode, num desenho de observação, deixar-se levar pelo ambiente. E a luz? A luz num desenho de observação ela é determinante.Quando se faz desenho de observação o volume, o peso, a massa, são contornados e definidos pela luz. A luz do momento, do ambiente. Neste tipo de desenho é impossível copiar de outro. É seu. Só seu. Cada ponto de vista é único. Único pela perspectiva, único pela luz, único pela expressividade.
Orações são como desenhos, desenhos de observação.
Fechamos os olhos na oração porque observamos o invisível, o que está dentro.
O desenho mente porque ilude. O desenho mente porque reduz. O desenho mente porque é o resultado de um processo muito maior.
A oração mente porque ilude. A palavra na oração reduz. A oração mente quando dita porque é resultado de um processo muito maior.
Todo mundo de certa maneira desenha.
Todo mundo de certa maneira ora.
Infelizmente isso está morrendo. Tanto um quanto outro.
Desenhamos nossa assinatura. Desenhamos palavras quando as escrevemos sem o teclado. O teclado é frio, uniforme, comportado. Palavra escrita no atrito de caneta no papel é outra coisa.
Oramos quando observamos o que está dentro, nossa assinatura. Oramos quando estamos distantes do 'prédio sagrado' e assumimos o papel de templo. Oração no silêncio do quarto é outra coisa.
Por que orações são como desenhos?
Orações comportadas, certinhas, são quase rezas. A gente aprende.
Orações deveriam ser mais parecidas com desenhos, desenhos de criança.
Expressões sem interpretação. Expressões livres como desenhos num sketchbook.
Orações e desenhos se desenvolvem, de verdade, na intimidade, na convivência.
Lápis e papel. Eu e Deus. Quem escreve? Quem descreve? Quem é suporte de quem?
Desenho se faz em parceia. Desenho aparece no atrito. Na convivência do lápis e do papel.
Oração também. Oração, de verdade só é encontrada na intimidade, no gemido, no quarto secreto, na não palavra.
O desenho verdadeiro denuncia o artista.
A oração verdadeira revela o adorado.
O desenho se faz sozinho a oração também.
O desenho pode ser visto e admirado por todos mas nasce na intimidade da solidão.
A oração não pode ser vista mas os resultados são observados na vida do adorador.

Desenho adeus a Rubem Alves

Estou de luto. Com a morte a gente não de conforma. Na morte a gente se consola. Neste caso meu consolo se transforma em gratidão. Rubem Alves é daqueles autores que conversava comigo.Seus textos me faziam passear. Passear e ver, ver e refletir, refletir e desejar viver para observar melhor a vida. Rubem não escrevia, pontuava. Rubem Alves me parecia um parente querido, meio tio, meio avô. Algumas vezes me sentia sentado no chão da varanda ouvindo sua voz grave, propondo reflexões profundas... outras vezes me tomando na mão, me levava para sentir gotas de chuva ou cheiro de mato. Quantas passagens em seu quarto de badulaques, seus jardins... Me consolo agradecendo. Minha gratidão a Deus pela intimidade tão distante, pela magia das palavras que me conduzem ao utopia e me trazem à humanidade. Minha gratidão pela paleta com múltiplos tons de esperança na educação. Minha gratidão as caraminholas que conduzem a um Deus que vai além (transcendente) e ao mesmo tempo tão próximo (imanente). Hoje fiquei pensando porque estou tão triste se nem conhecia Rubem Alves pessoalmente. Ai lembrei de um sepultamento em que meu amigo disse: quanto mais próximo mais sofrimento. Acho que é isso. Me fiz próximo, muitas vezes olhei com os olhos de Rubem Alves. Fiz o desenho ontem, mergulhado na intercessão. Comecei pensando fazer um desenho em aquarela pela leveza, a luz refletida que a técnica propicia. Não consegui. Aquarela é tinta diluída em água e meu coração já estava marejado. Agarrei a sanguíniea (um espécie de lápis-giz vermelho) e fui esfregando, como quem sofre, como quem grita, como quem clama. Defendo, e não é de hoje, que poetas são parecidos com profetas. A Beleza é mesmo divina!! Muito obrigado Senhor pelo Rubem Alves!!

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Angústia e trabalho

Voltei às pesquisas com papel kraft e o reciclato.
É preciso disciplina para estudar e desenvolver-se.
Isso vale para arte e, na realidade, para todas as dimensões da vida.
O retorno ocorre porque estou mergulhado no trabalho. Correndo para não ser atropelado pelo relógio e seus prazos. Vivo atendendo às exigências dos clientes para ter retorno financeiro e, com isso, suprir as naturais necessidade de sustento.
Algumas vezes tenho que deixar de lado minhas pesquisas, meus estudos.
Trabalho e prazer muitas vezes se confundem no meu exercício diário.
É claro que isso é agradável mas também é angustiante.
O prazer é enfrentar desafios.
Agora mesmo tenho que resolver a ilustração de capa da revista Sorriso que trata de amizade.
A angústia está em encontrar organização, definir prioridades e, dar ordem ao espelho: 'Pare de fazer isso! A prioridade é esta aqui!!
Preciso aprender a dizer 'não'. Preciso aprender a 'focar'. Preciso deixar de lado, como dizia um chefe ranzinza: 'a masturbação mental'.
Quero aprender. Isso exige tempo. Fazer e refazer de forma melhor.
Sempre lembro do meu primeiro chefe: "é o melhor que você pode fazer?". Aí eu voltava à prancheta para pensar em outra alternativa. Dói, algumas vezes ter que 'deletar' isso.
Aí, sabe o que acontece? Fico com uma pilha de trabalhos que são apelidados 'pesquisas e projetos'.
Não há remédio elaborado pelos farmacêuticos. O remédio, a cura, a doença e a 'praga' estão em mim.
Exigir menos? Produzir sem essa angustiante consciência? Impossível.