Desenho de observação feito em 1986. Lápis 6B sobre papel Canson.
Madrugada, depois da aula, em frente ao espelho 'emprestado' do banheiro.
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Quanto mais fiel à representação, quanto melhor a cópia, maior a falsidade.
É verdade. Desenhos 'perfeitinhos' mentem.
E é o tipo de mentira que todo mundo ama.
É preciso muito domínio da técnica, de educação do olhar, de aprendizado na escola para fazer um desenho 'igualzinho' a foto, à outra imagem.
Algumas orações, especialmente em público, são assim. Perfeitinhas.
Mas desenho de observação é diferente.
Desenho de observação é único. Sempre único. Sempre verdadeiro.
Desenho de observação exige escolha do ponto de vista. Desenho de observação impõe foco. Não se pode, num desenho de observação, deixar-se levar pelo ambiente. E a luz? A luz num desenho de observação ela é determinante.Quando se faz desenho de observação o volume, o peso, a massa, são contornados e definidos pela luz. A luz do momento, do ambiente. Neste tipo de desenho é impossível copiar de outro. É seu. Só seu. Cada ponto de vista é único. Único pela perspectiva, único pela luz, único pela expressividade.
Orações são como desenhos, desenhos de observação.
Fechamos os olhos na oração porque observamos o invisível, o que está dentro.
O desenho mente porque ilude. O desenho mente porque reduz. O desenho mente porque é o resultado de um processo muito maior.
A oração mente porque ilude. A palavra na oração reduz. A oração mente quando dita porque é resultado de um processo muito maior.
Todo mundo de certa maneira desenha.
Todo mundo de certa maneira ora.
Infelizmente isso está morrendo. Tanto um quanto outro.
Desenhamos nossa assinatura. Desenhamos palavras quando as escrevemos sem o teclado. O teclado é frio, uniforme, comportado. Palavra escrita no atrito de caneta no papel é outra coisa.
Oramos quando observamos o que está dentro, nossa assinatura. Oramos quando estamos distantes do 'prédio sagrado' e assumimos o papel de templo. Oração no silêncio do quarto é outra coisa.
Por que orações são como desenhos?
Orações comportadas, certinhas, são quase rezas. A gente aprende.
Orações deveriam ser mais parecidas com desenhos, desenhos de criança.
Expressões sem interpretação. Expressões livres como desenhos num sketchbook.
Orações e desenhos se desenvolvem, de verdade, na intimidade, na convivência.
Lápis e papel. Eu e Deus. Quem escreve? Quem descreve? Quem é suporte de quem?
Desenho se faz em parceia. Desenho aparece no atrito. Na convivência do lápis e do papel.
Oração também. Oração, de verdade só é encontrada na intimidade, no gemido, no quarto secreto, na não palavra.
O desenho verdadeiro denuncia o artista.
A oração verdadeira revela o adorado.
O desenho se faz sozinho a oração também.
O desenho pode ser visto e admirado por todos mas nasce na intimidade da solidão.
A oração não pode ser vista mas os resultados são observados na vida do adorador.
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