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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Toulouse me ajuda a ler Mateus

Não é de hoje que confesso minha paixão pelo trabalho de Toulouse-Lautrec.
Me identifico com ele pela convivência com a dor.
Há proximidade também pela artes gráficas, pelo estilo solto e pelo uso traço feito, muitas vezes com pastel
Algumas diferenças nos humanizam. Ele da aristocracia parisiense, eu do subúrbio carioca, os dois convivendo com a dor. Não há humanidade sem dor. Não há artista sem dor. A dor nos aproxima e nos humaniza. Ela, a dor, pode nos impulsionar à arte. "Ostra feliz não faz pérola".
Toulouse sofria de uma doença desconhecida em sua época. Tinha uma debilidade óssea que comprometeu seu crescimento. Depois de dois acidentes em sua juventude fraturou o fêmur das duas pernas, um aos doze outro aos quatorze anos. O resultado disso é que  Henri Toulouse-Lautrec desenvolveu o corpo normalmente mas ficou com as pernas pequenas, como de um menino.
Volto a pensar em Toulouse toda vez que minha esclerodermia se apresenta.
Estou revendo suas obras sonhando com os dias em que estarei passeando nos lugares em que ele viveu.
O contorno, a linha,o traço era a 'marca registrada' de Lautrec. Não se vê sombras em suas pinturas. Suas obras sempre incluíam pessoas e o suporte, quando em papel, era frequentemente amarelado.As sombras em Lautrec estão estampadas em seu abandono da aristocracia e o mergulho inconsequente à bebida. Mas é lá, justamente nesse ambiente, que ele dá vida e dignidade aos sofridos.

"A feiura, onde quer que esteja, tem sempre um lado belo; é fascinante descobrir beleza onde ninguém a consegue ver", dizia ele.

Fazer arte, mais do que nunca, vai além da habilidade motora. Produzir arte é educar o olhar, processar o contexto nas entranhas e expelir, transformando parte disso em imagem.
Processei assim o que Mestre dos mestres ensinou com o que Toulouse retratou em sua obra: O que você define como realmente importante, o imprescindível, este é o seu tesouro.O coração é a fonte dos sentimentos. Observe, os sentimentos estão cativos às suas prioridades. Por isso, onde estiver o seu tesouro, lá você encontrará seu coração. Este é o motivo para se ter cuidado e critério na seleção do que é consumido. Comemos com os olhos. É preciso desenvolver um olhar seletivo. Este olhar seletivo é a lanterna do corpo. Se a seleção for honesta, verdadeira, tudo o que sair de você deixará claro a sua forma de ver o mundo.



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