"Artista que não seja ao mesmo tempo artesão, quero dizer, artista que não conheça perfeitamente os processos, as exigências, os segredos do material que vai mover,não que não possa ser artista (psicologicamente pode), mas não pode fazer obras de arte dignas deste nome.'
Mario de Andrade - O Artista e O Artesão.
Outra função que atribuí ao meu sketchbook foi desenvolver a disciplina de refletir e exercitar o espaço artesão. A busca do domínio técnico, do aperfeiçoamento faz parte de quem é vocacionado. Vocação é chamada, é convocação. Se sou convocado, chamado a uma tarefa, então devo desempenha-lá com excelência. E excelência se encontra na dedicação, da disciplina do fazer. O texto de Mario de Andrade que redescobri - tive contato com ele há mais de 25 anos, ainda nos bancos da graduação com texto de português de Portugal - é uma reflexão sobre que aproxima e o que diferencia o artista e o artesão.
Entende agora por que vou preenchendo meu sketch buscando a "pegada''certa, a mancha ideal, a expressão denunciadora do sentimento? Ainda não é arte, mas a procura dela.
O fazer obras de arte, segundo Mario de Andrade, é composta de três diferentes etapas:
1ª - O artesanato
2ª - A virtuosidade
3ª - A solução pessoal
O que o grande Mario de Andrade chamou de artesanato, dei o nome de Fazer/conhecer
Procurei construir uma metáfora entre este fazer artístico e o relacionamento entre os seres humanos.
É a fase de aprendizagem, do fazer e conhecer os materiais, os processos e os personagens dessa história. História da arte.
À virtuosidade chamei de Dominar/Brigar
Como ocorre com o relacionamento humano é preciso tempo para estabelecer segurança e afinidade ao outro. Só a convivência faz e traz isso. "É preciso comer um quilo de sal com a pessoa', já dizia minha mãe. Aqui, eu diria: é preciso cheirar muita tinta, gastar muito papel. Para dominar e dominar-se é preciso dedicação e paciência para conhecer e conhecer-se. Assim também é o princípio da briga. Só briga e fica junto quem está disposto a amadurecer a relação. Quem, assim creio, quer chegar a ser artista deve pagar o preço de brigar. Brigar e perder, e ganhar, e novamente travar um duelo-diálogo entre o artista, o material selecionado, o suporte e todo vocabulário e informações ligadas à arte.
Finalmente o que ele chamou de solução pessoal, dei o nome de Expor/Conviver
Expor, expor-se e conviver é a construção de quem passou pelo processo de conhecimento, de briga e encontrou confiança suficiente para conviver. Conviver é viver junto. Respeitar o espaço, as diferenças (internas e externas), o limite e ainda deixar aberto o canal para novos contatos e novos conhecimentos.