Você que acompanha este blog sabe que faço ilustrações para periódicos evangélicos. O desafio de transformar em visível temas subjetivos e espirituais é um desafio constante. Viver nesse linha divisória entre teologia e ilustração é um cutucar-se (pode soar estranho, ninguém se cutuca mas dizem que Freud explica) constante. A arte que faz cócegas na mente me cutuca por um lado e, ao mesmo tempo, levo um chega-pra-lá da teologia (leia-se dogmas). Cresci nesse estreito limite, até onde permiti, castrador. Aí, muito tempo sem reagir, sendo politicamente correto, fui bem aceito, recebido e rotulado como "artista educadinho". Você já imagina consequência - totalmente por minha responsabilidade minha - : impor-se limites, procurar aceitação e buscar o certinho (leia-se certinho no sentido conceitual e não técnico).
Este desabafo que compartilho com você surgiu quando me vi diante do desafio de desenvolver três painéis para o Encontro de Adolescentes de minha igreja. Logo que me solicitaram a arte (um adorno, na verdade) perguntei o que desejavam que eu fizesse. "Faça o que você achar melhor", foi a resposta. Busquei os temas, os estímulos, os textos bíblicos que serviriam de base para o ENAC e muito pouco de informação me foi dado. Quando 'rabiscava' e pesquisava o que tinha para fazer, digeri uma crítica, muito abalizada por sinal, de minha forma 'largadona' de pintar. Fiz bico, ouvi, deixei a tarde passar, deitei aquela noite ouvindo aquelas palavras ecoarem. Ruminei e repaginei a crítica tentando recuperar o contexto em que ela foi aplicada. 'O que estava em falta era o exercício, a dedicação, a mesma aplicação apaixonada que eu faço com o desenho". Ruminei, digeri, concordei. Isso foi dito. E bem dito. Realmente precisava, e necessito mesmo, por razões especificamente minhas, desse tempo de 'ruminação'.
Desde que comecei a namorar minha esposa (lá se vão quase 30 anos) faço painéis em papel, remendando um bocado de folhas para desenhar sobre elas. Parece e é trabalho de louco. Esse recurso é utilizado em função do preço do material (só papel e lápis cera bem vagabundo, ou tinta de pintar parede com aqueles pigmentos - tipo pó xadrez) e da mão de obra (leia-se mão de arte voluntariamente escrava) grátis. Abusei?! Escandalizei?! Desta vez usei um pouco mais de recursos e comprei umas folhas de mdf 3 de três milímetros. Pensei: Se tenho que exercitar a pintura, por que não fazer isso pintando esses painéis (a maioria vai gentilmente ser guardada por uns meses, depois vira lixo mesmo). Comecei a desenhar livremente sobre um pedaço dessa 'madeira fajuta' e, que maravilha! O suporte responde de forma muito semelhante ao papel, não preciso fazer'milhares de emendas e ainda tem a deliciosa segurança de que não vai rasgar.. Transferi toda minha raiva adolescente, minha expressão de furor da lembrança de que esse tempo adolescente para mim já se foi e danei a pintar, desenhar me permitindo borrar. O desafio diante desse novo suporte era deixar a mão livre para riscar sem se controlar, sem apagar, sem apelar para o certinho. Que mergulho terapêutico! Terapêutico para a cabeça e para a alma porque o corpo tortura. Estou todo moído e escrevendo essas linhas pensando um relaxante muscular. (kkk)
Tentei emendar as fotos que tirei aqui no estúdio, mas as imagens me traem.
Para quem quer saber a receita:
placas de mdf de 3mm - (92x280)
+ lápis Faber Castell 3b e 6b
+resto de tinta acrílica
+tinta latex para parede branca
+marcador permanente e caneta para retroprojetor velha
Esse é meu primeiro sketchbookão.
foto tirada de cima da mesa do escritório
Este desabafo que compartilho com você surgiu quando me vi diante do desafio de desenvolver três painéis para o Encontro de Adolescentes de minha igreja. Logo que me solicitaram a arte (um adorno, na verdade) perguntei o que desejavam que eu fizesse. "Faça o que você achar melhor", foi a resposta. Busquei os temas, os estímulos, os textos bíblicos que serviriam de base para o ENAC e muito pouco de informação me foi dado. Quando 'rabiscava' e pesquisava o que tinha para fazer, digeri uma crítica, muito abalizada por sinal, de minha forma 'largadona' de pintar. Fiz bico, ouvi, deixei a tarde passar, deitei aquela noite ouvindo aquelas palavras ecoarem. Ruminei e repaginei a crítica tentando recuperar o contexto em que ela foi aplicada. 'O que estava em falta era o exercício, a dedicação, a mesma aplicação apaixonada que eu faço com o desenho". Ruminei, digeri, concordei. Isso foi dito. E bem dito. Realmente precisava, e necessito mesmo, por razões especificamente minhas, desse tempo de 'ruminação'.
Desde que comecei a namorar minha esposa (lá se vão quase 30 anos) faço painéis em papel, remendando um bocado de folhas para desenhar sobre elas. Parece e é trabalho de louco. Esse recurso é utilizado em função do preço do material (só papel e lápis cera bem vagabundo, ou tinta de pintar parede com aqueles pigmentos - tipo pó xadrez) e da mão de obra (leia-se mão de arte voluntariamente escrava) grátis. Abusei?! Escandalizei?! Desta vez usei um pouco mais de recursos e comprei umas folhas de mdf 3 de três milímetros. Pensei: Se tenho que exercitar a pintura, por que não fazer isso pintando esses painéis (a maioria vai gentilmente ser guardada por uns meses, depois vira lixo mesmo). Comecei a desenhar livremente sobre um pedaço dessa 'madeira fajuta' e, que maravilha! O suporte responde de forma muito semelhante ao papel, não preciso fazer'milhares de emendas e ainda tem a deliciosa segurança de que não vai rasgar.. Transferi toda minha raiva adolescente, minha expressão de furor da lembrança de que esse tempo adolescente para mim já se foi e danei a pintar, desenhar me permitindo borrar. O desafio diante desse novo suporte era deixar a mão livre para riscar sem se controlar, sem apagar, sem apelar para o certinho. Que mergulho terapêutico! Terapêutico para a cabeça e para a alma porque o corpo tortura. Estou todo moído e escrevendo essas linhas pensando um relaxante muscular. (kkk)
Tentei emendar as fotos que tirei aqui no estúdio, mas as imagens me traem.
Para quem quer saber a receita:
placas de mdf de 3mm - (92x280)
+ lápis Faber Castell 3b e 6b
+resto de tinta acrílica
+tinta latex para parede branca
+marcador permanente e caneta para retroprojetor velha
Esse é meu primeiro sketchbookão.
Meus dedos assinam a obra. (kkk)
foto tirada de cima da mesa do escritório
foto tirada de cima da mesa do escritório.