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terça-feira, 30 de abril de 2013

Painel Adolescentes "sketchbookão"

Você que acompanha este blog sabe que faço ilustrações para periódicos evangélicos. O desafio de transformar em visível temas subjetivos e espirituais é um desafio constante. Viver nesse linha divisória entre teologia e ilustração é um cutucar-se (pode soar estranho, ninguém se cutuca mas dizem que Freud explica) constante. A arte que faz cócegas na mente me cutuca por um lado e, ao  mesmo tempo, levo um chega-pra-lá da teologia (leia-se dogmas). Cresci nesse estreito limite, até onde permiti, castrador. Aí, muito tempo sem reagir, sendo politicamente correto, fui bem aceito, recebido e rotulado como "artista educadinho". Você já imagina consequência - totalmente por minha responsabilidade minha - : impor-se limites, procurar aceitação e buscar o certinho (leia-se certinho no sentido conceitual e não técnico).
Este desabafo que compartilho com você surgiu quando me vi diante do desafio de desenvolver três painéis para o Encontro de Adolescentes de minha igreja. Logo que me solicitaram a arte (um adorno, na verdade) perguntei o que desejavam que eu fizesse. "Faça o que você achar melhor", foi a resposta. Busquei os temas, os estímulos, os textos bíblicos que serviriam de base para o ENAC e muito pouco de informação me foi dado. Quando 'rabiscava' e pesquisava o que tinha para fazer, digeri uma crítica, muito abalizada por sinal, de minha forma 'largadona' de pintar. Fiz bico, ouvi, deixei a tarde passar, deitei aquela noite ouvindo aquelas palavras ecoarem. Ruminei e repaginei a crítica tentando recuperar o contexto em que ela foi aplicada. 'O que estava em falta era o exercício, a dedicação, a mesma aplicação apaixonada que eu faço com o desenho". Ruminei, digeri, concordei. Isso foi dito. E bem dito. Realmente precisava,  e necessito mesmo, por razões especificamente minhas, desse tempo de 'ruminação'.
Desde que comecei a namorar minha esposa (lá se vão quase 30 anos) faço painéis em papel, remendando um bocado de folhas para desenhar sobre elas. Parece e é trabalho de louco. Esse recurso é utilizado em função do preço do material (só papel e lápis cera bem vagabundo, ou tinta de pintar parede com aqueles pigmentos - tipo pó xadrez)  e da mão de obra (leia-se mão de arte voluntariamente escrava) grátis. Abusei?! Escandalizei?! Desta vez usei um pouco mais de recursos e comprei umas folhas de mdf 3 de três milímetros.  Pensei: Se tenho que exercitar a pintura, por que não fazer isso pintando esses painéis (a maioria vai gentilmente ser guardada por uns meses, depois vira lixo mesmo). Comecei a desenhar livremente sobre um pedaço dessa 'madeira fajuta' e, que maravilha! O suporte responde de forma muito semelhante ao papel, não preciso fazer'milhares de emendas e ainda tem a deliciosa segurança de que não vai rasgar.. Transferi toda minha raiva adolescente, minha expressão de furor da lembrança de que esse tempo adolescente para mim já se foi e danei a pintar, desenhar me permitindo borrar. O desafio diante desse novo suporte era deixar a mão livre para riscar sem se controlar, sem apagar, sem apelar para o certinho. Que mergulho terapêutico! Terapêutico para a cabeça e para a alma porque o corpo tortura. Estou todo moído e  escrevendo essas linhas pensando um relaxante muscular. (kkk)
Tentei emendar as fotos que tirei aqui no estúdio, mas as imagens me traem.
Para quem quer saber a receita:
placas de mdf de 3mm - (92x280)
+ lápis Faber Castell 3b  e 6b
+resto de tinta acrílica
+tinta latex para parede branca
+marcador permanente e caneta para retroprojetor velha
Esse é meu primeiro sketchbookão.



Meus dedos assinam a obra. (kkk)




 foto tirada de cima da mesa do escritório
foto tirada de cima da mesa do escritório.

domingo, 21 de abril de 2013

Davi e o urso (?)

Desenhar é, em alguns momentos, muito parecido com a tarefa de um diretor de cinema. A gente imagina a cena e de repente se vê  "bisbilhotanto" o personagem e escolhendo a melhor 'tomada'. Estava numa dessas tarefas diante desse texto, com o desafio de ilustrar em quatro momentos esse episódio. O desenho será bem pequenino, quase esquemático, só para que a criança coloque em ordem a história, mas confesso que depois de ler fiquei muito entusiasmado.

"Davi, entretanto, disse a Saul: "Teu servo toma conta das ovelhas de seu pai. Quando aparece um leão ou um urso e leva uma ovelha do rebanho,
eu vou atrás dele, atinjo-o com golpes e livro a ovelha de sua boca. Quando se vira contra mim, eu o pego pela juba, atinjo-o com golpes até matá-lo.
Teu servo é capaz de matar tanto um leão quanto um urso; esse filisteu incircunciso será como um deles, pois desafiou os exércitos do Deus vivo. 
1 Samuel 17:34-36

Estou querendo colorizar com acrílica e transformar  essas imagens num painel. Compartilho com você um dos desenhos, ainda à lápis, feito num cantinho do meu sketchbook, sobre o texto. Repare como 'fica comportadinho' o mesmo desenho, feito à traço, quando omito parte do urso embaixo do pequeno Davi. (kkk).

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Sublimar, triturar, expelir?

O trabalho de um apaixonado por arte, qualquer que seja a linguagem, é solitário. A gente parece um liquidificador, ou para os mais novos, um processador de alimentos. Estamos abertos para receber tudo a nossa volta. Trituramos, amassamos, picamos tudo dentro da alma e apresentamos uma 'mistureba' desse material selecionado. Divino?! Não há nenhum excepcional milagre nisso. Humano. Muito humano, muito próximo. As angústias, as dores, a convivência, a carência, a impotência. Todo ser humano faz esse 'processamento'. O que diferencia o artista é que este transforma, ou tenta materializar, em imagem, sons, palavras, movimentos, volumes, cores. Nós vivemos (estou nessa gente!) um misto de angústia e prazer. Angústia porque toda expressão é traidora da verdade dessa mistura. Ninguém consegue ser fidelíssimo à representação. E o prazer? O prazer para o artista está no processo, no fazer. É o prazer de gritar hora do gol, de xingar o juiz,  de 'botar pra fora". Por isso a arte é catártica  Esse processo de trazer à consciência as emoções ou sentimentos para que ele seja capaz de se liberar das consequências - como defende a psicanálise - ou a ação de evacuar os intestinos (fazer 'M') como diz a medicina, tudo isso é terapêutico. Tudo está no campo humano. Fazendo arte a gente sublima. Sublimar é tornar sublime, exalta, engrandecer. A arte sublima as paixões. E sublimar também é purificar, expurgar a imperfeição, a impureza. A arte sublima os sentimentos.
Daí meus devaneios. O artista parece um profeta. A arte é um 'cura d'alma' à nossa disposição. O louvor do artista é sua arte. E o divino? Divino é "o totalmente outro", como dizia Karl Barth. É exatamente aqui, nesse diálogo com o que está além da compreensão que a consciência "pira". Essa busca de respostas no terreno transcendente nos 'cutuca' a fazer, a transformar, a dominar e paralelamente nos impulsiona para o perfeito, nos atrai para Deus. O humano denuncia a presença do Divino, o imperfeito do Perfeito, o limitado do Eterno.
Quer exemplo melhor que Guernica?



segunda-feira, 8 de abril de 2013

Batman TV



Meu sketchbook tem servido de terapia e reflexão. Encontrei uma foto antiga do Adam West, lembra dele? Colei numa folha azul de cartolina bem surradinha que inseri na hora de montar o sketch. Cabeça vazia enquanto cochilava numa das viagens de ônibus, peguei meu sketchbook e a caneta bic e comecei a rabiscar livremente o personagem que povoou minha infância  Que delícia desenhar sem compromisso de aprovação, avaliação o prazo. Desenhar é sempre um prazer enorme. Resolvi encarar o desafio de colorizar o desenho sobre aquela folhinha sem vergonha. Fiz tudo com caneta bic, lápis de cor e caneta para retroprojetor. A mancha branca fiz com gouache quando cheguei em casa.  Me divirto sozinho  nessas 'viagens ilustradas no ônibus'. Já sei o lugar certo de ficar sentado e estou aprendendo a administrar o ritmo do traço.

Mercedes Sosa - e vai brotando, brotando

Algumas vozes, algumas músicas marcam etapas de nossas vidas, não é mesmo? Pelo menos comigo é assim. Ouvir Mercedes Sosa é voltar a uma época de encontros e despedidas, de coração de estudante, de honrar a vida morando sozinho num apartamento vazio. Lembranças de sonhos, lágrimas, esperança e certeza (leia-se fé) de construção de momentos melhores. É a fase da vida que rotulei de fase miojo. Semana passada ouvi Mercedes Sosa peguei meu sketchbook e 'rebubinei' as emoções daqueles tempos de universitário, de campanha das diretas, de movimento negro, de greve e passeata e 'caçador de mim'. A arte aponta para o que foi e esse exercício de olhar e registrar o que foi dá sentido de onde estamos e cutuca a gente para prosseguir a caminhada.
Como foi agradável descobrir que o apelido dela era "La negra", não pelos seus belos cabelos negros, como sempre pensei, mas porque ela era conhecida como a voz dos 'sem voz'.


O desenho foi feito à lápis da maneira mais solta possível (nada de borracha). Só a emoção do traço. Pintei com lápis de cor sobre o próprio desenho e finalmente brinquei com a textura acrílica no echarpe sobre a mancha aquarelada.





"Voltar aos 17 depois de viver um século
É como decifrar sinais sem ser sábio competente
Voltar a ser de repente tão frágil como um segundo
Voltar a sentir profundo como um menino diante de Deus
Isso é o que sinto neste instante fecundo

Vai se envolvendo, envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim.

O que pode o sentimento não o pode o saber
Nem o mais claro proceder, nem o maior dos pensamentos
Tudo o muda num momento qual mago condescendente
Nos afasta docemente de rancores e violências
Só o amor com sua ciência nos torna tão inocentes"

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Releitura de Monet




Claude Monet é considerado popularmente com o pai do impressionismo. Há controvérsias. Quem sabe um dia escrevo sobre Pissarro... mas, voltando a Monet, o que temos como certeza é que o carimbo 'impressionismo' nasceu de um de seus quadros- 'Impressões, nascer do sol". Esta pintura-exercício que fiz com tinta acrílica sobre MDF (
45x35cm) é uma releitura livre do quadro que mais impressionou minha esposa na exposição que ocorreu aqui no Rio de Janeiro - Regata em Argenteuil. O original é um óleo sobre tela de 1872.