O coração do artista (parte 3)
Palestra para Semana de artes Hans Rookmaaker da Primeira Igreja Batista Jardim Novo Realengo, RJ
Defendo a ideia de que o artista, o poeta se parece com o profeta. Poeta é aquele que processa o mundo e o transforma em produção artística e esta produção estimula a reflexão, o pensamento. Poeta da música, da pintura, da literatura... e o profeta é quem olha para o seu tempo e denuncia o que vai acontecer se continuarem aquele caminho. O ponto em comum é que ambos enxergam seu tempo e apontam para uma mudança, uma ‘metanoia’. Meta (além de)+ nous (pensamento, intelecto) no seu sentido original, significa mudar o próprio pensamento, mudar de ideia. Seria a mudança do que um indivíduo está vivenciando para um novo modo de viver.
Platão disse que, quando o poeta está realmente
sendo poeta, ele está ‘inspirado’, ‘possuído’. Com isso, ele pretendia dizer
que o poeta recebeu um ‘sopro divino’, pois a palavra em do Latim IN
(em)+SPIRARE (respirar). Já o músico J. S. Bach, por sua vez, dizia que o
principal para fazer uma obra de arte era o trabalho, mais di que a inspiração.
Esse entendia de fazer arte.
Voltando ao paralelo entre profeta e poeta,
pensemos no profeta Jonas, por exemplo. Ele foi chamado para pregar Nínive era
a capital do país inimigo, dos odiados oponentes, dos ameaçadores. Deus manda
Jonas ir pra lá para profetizar e pregar o arrependimento. O profeta não quer mas
vai. Como sabemos disso? Sabemos pelas atitudes de Jonas. O que ele faz
denuncia o que ele sente. Ele prega com muita má vontade e, por incrível que
pareça, todos, inclusive o rei, se arrependem. O que o profeta diz? Ele afirma:
eu já sabia! Deus seu caráter perdoador ‘quebraria o galho’ desse povo mau. O
profeta fica triste se recolhe e tem a experiência da aboboreira. Naquela
experiência, mais uma vez, Deus mostra ao profeta como ele age. Entendeu Jonas?
A mesma coisa acontece com os demais profetas. Ele olha a atitude do seu povo e
usa a orientação divina para mostrar o que está dando errado e vai ter
consequências. O artista faz o mesmo. O artista é, assim como o profeta,
qualquer um do meio do povo que se dispõe. Que é sensível à realidade de seu
tempo, de sua vida e não aguenta de desejo de expressar isso de alguma forma.
Permitam-me,
por favor, entrar aqui com a teoria de Howard
Gardner, desenvolvida na década de 80 por uma equipe de investigadores da Universidade de Harvard.
Segundo esse pesquisador existem nove tipos diferentes de inteligências. A
inteligência Lógico-matemática, a Línguística, a Musical, a Espacial, a Corporal-cinestésica,
a Intrapessoal, a Interpessoal, a Naturalista e a Existencial. E dai? Você deve
estar me perguntando, não é? Daí que é muito bom uma teoria afirmar o que o
senso comum já dizia com ‘cada um dá o que tem’, ou ‘ninguém é bom em tudo’. É
o famoso ‘ninguém é burro de tudo’. Se não é burro de tudo também não é
inteligente de todo. Por isso temos gente muito boa da linguagem matemática.
Deve ter alguém bom nisso aqui, não é? Tem gente que gosta de números!! Tem
gente que parece que nasceu ‘sacolejando’, não é mesmo? Outros falam com uma
facilidade se expressam de maneira tão clara. Dizemos que isso é inato, que é
talento. Artista é gente que tem talento.
Talento
me faz recordar uma história contada por Jesus. Trabalho de casa: ler o texto
de Mateus 25. O evangelista dos judeus registra que o Senhor compara o Reino a
um senhor que distribui talentos. Todos ganham talentos para administrar. Na
história os talentos são do Senhor. Talento é o nome de uma antiga moeda grega
que representava 6000 denários/drácmas. Isso dá quase 17 anos de uma diária de
um trabalhador. Você conhece a história. O que recebeu cinco entregou mais
cinco. O que recebeu dois mais dois e o que recebeu um devolveu. Creio que
damos muito destaque ao ‘grangear’ das versões antigas ou do ‘pão duro’ que
enterrou o talento. Mas tem a dimensão do comportamento do dono da riqueza. Aos
dois primeiros da história, você lembra o que ele disse? Entra o gozo do teu
senhor. Sejam meus sócios, meus parceiros. O outro não faz por medo e não faz
porque tem uma visão errada o senhor. Ele acha que o ‘senhor colhe onde não
semeia e ajunta onde não espalha’. Este, segundo o autor, coloca o senhor como
explorador injusto. Visão equivocada a quem foi confiado 17 anos de trabalho de
um diarista. Talento é dádiva, ou melhor
empréstimo. Empréstimo? É isso mesmo. O poeta, o artista bíblico afirmou
que ‘Do Senhor é a terra e tudo o que nela
existe, o mundo e os que nele vivem;’ Sl 24:1
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