Já disse, algumas vezes, que viajar de ônibus tem sido muito saudável para mim. Não tenho que aturar os intensos engarrafamentos e o stress natural de dirigir na Taquara, aproveito o tempo para ler e ainda posso desenhar livremente, enquanto o tempo de viagem corre. Nesta semana, além desta deliciosa rotina, fiz contato com Iago. Foi assim:
Estava sentado na cadeira boa para desenhar - em outro post vou falar sobre isso - Iago e sua mãe, uma jovem senhora com cara sofrida, entraram no coletivo e 'estacionaram' próximos a mim. Não dava pra disfarçar, ficar desenhando ou lendo como quem diz, procura outro lugar. Pronto. Parei a leitura e cedi o lugar. Aí, com a maior boa vontade a senhora pediu minha nada leve, nada limpa, mochila. Não aceitei a simpática oferta. Seria mais uma tortura para ela ficar com o menino no colo, a bolsa gigante que ela levava e ainda a minha mochila. Outra senhora, que era minha parceira de banco, nem aí para tudo isso.
Me acomodei no espaço que havia do vão dos cadeirantes e, nesta mesma viagem, fiz a 'molecagem' de fotografar a estudante, que compartilhei num post anterior a este. Quando percebi, o menino sentado no colo de sua mãe, que dormia profundamente, me observava em toda a ação, registrando cada detalhe.
O ônibus foi esvaziando e, quando me sentei, comecei a desenhar a menina que havia fotografado com meu celular, enquanto eu estava em pé. E o menino olhava, observava tudo com extrema atenção. Ele me olhava com aqueles olhos de 'gato de botas', aí então, decidi encarar o menino, que naquele momento não olhava para mim. O Iago estava com o olhar perdido no horizonte. A mãe, quando acordou percebeu que eu estava próximo e danou a falar. Agradeceu novamente a gentiliza, contou um bocado de mazela e perguntou se eu sabia onde era o Hospital do Andaraí. Sem parar para respirar indagou se eu poderia indicar o local ideal para ela descer perto do Hospital, se estava atrapalhando, e blá, blá, blá. Num desses blá, blá, blá é que ela falou o nome do menino, que não estava nem aí para as 'profundas' questões da mãe dele. Calei. Quase por um milagre a dona dirigiu-se à outra passageira que topou papear e eu pude voltar à rotina. Mas como ignorar o olhar perdido daquele menino indo ao hospital? E aí vem a serra! Quando, do nada, a mãe abraçou carinhosamente o menino, ele apontou para mim sem dizer palavra alguma. Mostrei o desenho e a dona fez a maior propaganda no coletivo: Olha Iago ele desenhou você! O senhor é desenhista? Olha filho que lindo, não é? Eu e o menino ficamos com cara de paisagem. Graças a Deus não demorou muito e o ponto para Hospital do Andaraí chegou. A mãe, com olhar menos sofrido do que quando entrara, agradeceu efusivamente antes dos dois descerem. Lá, fora do ônibus, o menino Iago sorriu e acenou para mim. Foi delicioso ver o sorriso dele e pensar que arranquei essa expressão sem falar nada com ele.
Como você pode observar usei a página dupla do sketch.
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